David Fonseca em palco é o verdadeiro artista


“E portanto, senhoras e senhores, eu vou cantar.” Efectivamente David Fonseca veio para cantar, mas no Teatro Micaelense houve muito mais. Houve um performer de outro mundo, um tipo cheio de piada e sem tretas, houve uma noite para recordar até ao final dos tempos.

Aquela linha de guitarra claramente reconhecível de “Futuro Eu” em suspenso até à entrada de David no seu mega fato azul deixava já um Teatro Micaelense em suspenso. Entra a enérgica música e aquele primeiro verso – o arrepio é inevitável. Enquanto as gémeas disputam aquela corda num loop infinito, David Fonseca prova que o único desfecho possível para aquela noite é algo verdadeiramente memorável.

“Futuro Eu” foi corrido de ponta a ponta, mas houve espaço para os grandes êxitos da carreira do músico que começou nos Silence 4. O mais engraçado é que com David Fonseca os grandes êxitos parecem infinitos. À medida que avançava a noite parecia que esgotavam-se os temas que todos conhecemos – mas havia sempre mais um. “The 80’s” e a inevitável dança, “Someone that cannot love” e a sua melancolia ou até “Borrow“ – editada ainda com os Silence 4 – com a presença inesperada de um membro do público. E claro, na retina perdura aquele solo frenético de “Stop 4 a minute” em cima de uma das cadeiras vagas do Teatro.

No espectáculo de encerramento da Tour dos Teatros – que foi de Barcelona a Oliveira de Azeméis – houve tempo para tudo. David Fonseca fez questão de saborear cada instante daquele último espectáculo por entre camarotes, plateias e balcões. E se é verdade que o músico de Leiria mete qualquer plateia a dançar, não é menos verdade que merece um teatro de ouvido atento, olhar colado e ovações de pé. No Teatro Micaelense houve realmente tempo para tudo: ovações, pezinhos de dança e até estórias mirabolantes – sim, também houve tempo para isso. Desde o insólito anúncio classificado que procurava uma acompanhante “séria”, “ bem disposta” e com “humor” para o concerto de abertura da tour no CCB, até ao dia em que David Fonseca foi confundido com o irmão da Romana – afinal todos podemos ser o irmão da Romana.

Lá pelo meio de todo aquele espectáculo que ultrapassa e muito a sua já fantástica música, David Fonseca autoproclamou-se profissional da escrita de canções. Na verdade David é muito mais que isso. Escreve canções, é certo, mas escreve um marco na pop portuguesa, chega a toda a gente numa linguagem de simplicidade e incrível assertividade, parte corações e arrebata qualquer amante de música. Mas consegue ir mais longe – em David Fonseca há um extraordinário artista visual, um fantástico entertainer, há até um rapaz com jeito para a comédia. No final, é fácil perceber que com David Fonseca tudo é possível – que o diga quem teve a sorte de estar no Teatro Micaelense.

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Foto: Fernando Resendes

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