Dead Combo no Coliseu dos Recreios: Concerto de uma vida


Plateia de pé, ainda estupefacta, Tó Trips visivelmente emocionado, sorrisos por toda a parte. Depois de duas horas de pura magia, foi assim que acabou o concerto de Dead Combo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa.

Em formato circo de natal, com uma plateia circular e, no palco, um autêntico altar repleto de flores, fotografias antigas e até caveiras, completado com quase meia dúzia de guitarras, no Coliseu dos Recreios sente-se algo único no ar, respira-se Dead Combo. No camarote presidencial surgem três sopros que anunciam a entrada de um personagem de cerca de um metro e trinta com um brilhante fato vermelho que por sua vez tem a função de anunciar a entrada dos músicos. No entanto, vê-se apenas um amolador de facas a surgir no meio da plateia, seguido de um talhante a carecer dos seus serviços. Parece tudo menos um concerto, é verdade, mas na noite circense dos Dead Combo vale tudo.

Com o foco ainda neste espetáculo de artes e ofícios, o cangalheiro e o gangster entram de fininho e ouvem-se as primeiras notas de “Povo que cais descalço”. Arrepio certo, ligam-se as luzes e lá estão eles, sentados frente a frente, agarrados às suas guitarras. Acompanhados apenas pelo pé do homem da cartola a marcar o tempo, cada acorde é como uma ligação direta ao coração. Turbilhão de sentimentos.

Numa noite memorável, Tó Trips e Pedro Gonçalves encarregaram-se de trazer ao Coliseu músicos exímios que os acompanharam e preencheram toda uma actuação não só musical como cénica, onde as roupas, as cores e até os assistentes de palco tinham um papel definido. Com um alinhamento musical extraordinário, o duo lisboeta conseguiu guiar a plateia numa viagem em crescendo, culminando com “A bunch of Meninos” e “Lisboa Mulata” na companhia de Alexandre Frazão na bateria e da “Real Orquestra das Caveiras”, composta por três sopros e um piano.

Após ovação de pé, e para o espanto de todos os que assistiam a um concerto de uma vida, abrem-se as cortinas do palco fixo do Coliseu e Tó Trips e Pedro Gonçalves jogam a cartada final com um magnífico e único encore, enquadrado com um palco magnificamente ornamentado ao estilo dos Dead Combo, com espaço até para uma sinistra casa de bonecas.

Sem nada dizer, os Dead Combo conseguem dizer tudo. Aqui as palavras são deixadas de parte, aqui a mensagem é a música. Aqui, com Trips e Gonçalves, a mensagem é Dead Combo.

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Foto de Luís Flores

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