Entre “Gera Sons”: Os dois lados de Dark Side of the Moon


(Lado A – No céu)

(Deus arquitecta lançar mais uma prova da sua existência)

Deus está no Seu ‘atelier concepcional’. Em cima da Sua secretária sideral estão os esquiços de David Gilmour, Roger Waters, Nick Mason e Richard Wright. O Artífice dos artífices coloca todo o Seu zelo e empenho no projecto. Depois de reunir as Suas melhores ferramentas, põe mãos à Obra…Tem mais que o tempo do Mundo para, peça a peça, fabricar um novo milagre.

O céu está em polvorosa. Ninguém sabe o que Deus planeia. Do lado de fora do atelier, os Santos tentam espreitar o Seu novo projecto. No entanto, desta vez, o Arquitecto do Universo, decidiu revestir as suas janelas com panos de mistério.

– “Speak to me” é o que diz, agora, que se prepara para avaliar o resultado do trabalho investido. Os arquétipos reagem. Já se ouve o pulsar da nova dica da existência de Deus para o mundo terreno. Deus sorri, orgulhosamente.

– “Breathe” e “On the run”, Check! Nada falha no plano de Deus. As máquinas estão a funcionar e a correr lindamente. Há, apenas, que fazer pequenos ajustes… nada de maior. Deus resolve-os num estalar de dedos.

“Deus já acabou!” – vai-se ouvindo por entre as nuvens. Deus faz soar os sinos do céu para anunciar às almas curiosas que o seu plano vai entrar em acção. Um Universo inteiro corre para a porta do ‘atelier’. It’s Time”! – gritam os mais ansiosos por conhecer as novas estrelas que Deus trabalhou para fazer o Mundo olhar para elas.

Finalmente, aparecem! Tocam as trompas da glória! Ecoam palmas e assobios no céu. Lançam-se flores. É um dia especial. É dia de festa! Brinda-se com o néctar dos Deuses Antigos e a multidão abraça-se, repetidamente. Para a descida dos arquétipos à terra está, claro, reservada a última surpresa do Senhor de todos nós. Abre-se The Great Gig in the Sky. – Esta é a porta nobre pela qual transitam todos aqueles a quem Deus dedicou um pouco mais do Seu tempo.

A ‘viagem’ até ao mundo terreno é divinal. Não há palavras para a descrever. Os que a viveram sabem que dá voz ao tudo e ao nada. Improvisa e engana os instantes. O tempo, este, fica à mercê das emoções do viajante. Depois, cabe às emoções escolher o melhor cenário e o melhor destino: passado, presente, ou futuro. Sonho ou realidade.

 

(Lado B – na Terra)

“Money” é a palavra que aparece com maior frequência a quem acaba de chegar à Terra, após transcendente viagem. O tilintar das moedas vai substituindo os cânticos angelicais e a partilha, prática comum nos céus, vai dando lugar à economia de mercado.

Quem vem de te tão longe não pode deixar de comparar as duas realidades. Tem mesmo de se situar: “O céu é no céu. E a Terra é na Terra. Existem os homens na terra e as estrelas no céu. Portanto, “Us and them”…”

Distantes do reino onde (quase) todos são iguais, têm, agora, de marcar a diferença. Pois é. Na Terra o ritmo é outro. É competitivo. As tentações sobrepõem-se a qualquer valor moral. Entretanto, os instintos inatos da (sobre)vivência recordam que há que enfrentar o prisma actual com a convicção de que um dia o mundo será bem mais colorido. – De que cor? “Any color you like”, respondem os mais optimistas.

Os últimos homens feitos à imagem de Deus, deparam-se no meio da esquizofrenia total: Trânsito, fome, beijo, pobreza, abraço, riqueza, petróleo, dinheiro, informação, religião, sucesso, azar, formação, Deus, dependência, cultura, investimento, ciência, evolução, economia, mulher…”Ufa! São quatro “Brain Damage”, por favor”. Todos são unânimes em beber a realidade num só gole e apagar por umas horas o stress do dia.

No dia a seguir o Sol fere-lhes os olhos, castigador. Já sem peneira, seis biliões e quatro pessoas rogam por um “Eclipse”.

 

Este é o meu filme. A banda sonora escolhida, por mais anos que passem, vai estar sempre, demasiadamente, à frente para o seu tempo. São 43:04 minutos, feitos há quarenta anos, para fazer deliciar o futuro.

Parabéns, Pink Floyd! Obrigado, Deus!

 

Por: Miguel Mota

+ There are no comments

Add yours