Festival Tremor agitou a baixa de Ponta Delgada


Há precisamente uma semana atrás, a baixa da cidade de Ponta Delgada foi epicentro de um forte abalo. Um abalo cultural que espalhou música alternativa por toda a cidade, atingindo locais verdadeiramente improváveis. Afinal, não é todos os dias que podemos ouvir acordes de guitarra eléctrica – ainda que a acompanhar melodias suaves – numa loja de roupa masculina. Durante pouco mais de vinte minutos, centenas de camiseiros e outras peças de roupa – outrora em lugar de destaque – cederam o seu espaço ao público do Festival Tremor, e Duquesa (projecto a solo do vocalista dos Glokenwise) fez companhia aos silenciosos e imóveis manequins. Foi assim, por exemplo, na Londrina.

Voltemos um pouco atrás. Início de tarde de sábado: almoço e café tomado, programa do festival na mão para delinear um possível roteiro. Por muito que custe, há que definir prioridades, uma vez que são vários os concertos em simultâneo. Depois de identificadas as duas ou três actuações imperdíveis, munidos de pulseira de acesso aos concertos e trocos para a cerveja, a equipa do Meia de Rock parte em direcção à Galeria Fonseca e Macedo para dar início à maratona musical.

Um ‘pulinho’ aqui e um ‘pulinho’ acolá para tentar aproveitar ao máximo todos os artista que se encontravam dentro de um raio de acção humanamente possível de alcançar, dois dedos de conversa entre actuações, e uma merecida pausa da jantar.

Não há dúvidas: o Tremor agitou Ponta Delgada. Pessoas de todas as idades literalmente em movimento, ao ar livre, num dia em que até o tempo (meteorológico, entenda-se) ajudou. Soube mesmo bem descer ruas e atravessar vielas, de bar em bar, de concerto em concerto. Ponta Delgada é uma cidade maravilhosa. Faltam talvez mais iniciativas deste género para lhe dar a vida que merece.

Não fosse o facto de constar do programa do festival, até se poderia pensar que o concerto de Noiserv no mesmo dia em que decorreu o Tremor seria coincidência, uma vez que o formato do concerto acabou por se afastar um pouco do conceito do festival. De qualquer forma, este foi mesmo um dos momentos mais aguardados pelo público, que encheu o Teatro Micaelense.

A “performance” solitária de Noiserv é notável. Entrincheirado num autêntico arsenal de instrumentos, o músico acaba por fazer o papel de uma banda. No entanto, após duas ou três músicas o conceito evidencia as suas limitações e perde um pouco do seu efeito inicial, especialmente no ambiente formal de uma sala de espectáculos convencional. Embora tenha sido a actuação mais divulgada – por motivos óbvios – e a que teve mais público – por motivos ainda mais óbvios – esteve longe de ser a melhor do festival.

Não faltam motivos para felicitar toda a organização do festival Tremor, mas há dois aspectos em particular que merecem destaque. O primeiro, é o facto de os concertos terem começado e terminado às horas indicadas no programa – aliás, de outra forma, o conceito peculiar deste festival não resultaria. O outro motivo de especial satisfação é a aposta em artistas locais, que tiveram assim mais uma oportunidade para mostrar o seu talento em condições dignas.

Não sendo bem uma falha, mas uma inevitabilidade do conceito do festival, ficou, em várias actuações, a sensação de “saber a pouco”, não só por parte do público, mas também por parte dos músicos.

Para o ano haverá mais. Esperemos.

 

Por: João Cordeiro e Lázaro Raposo

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