Grande destaque para LOT e Valete no segundo dia de Monte Verde


A grande tenda em cúpula começava a receber alguns curiosos logo após Ella Eyre terminar a sua enérgica actuação no palco principal do Monte Verde Festival. Uma electrónica de subtileza sublime, sem agressividades desnecessárias e de beleza ímpar varria aquela pequena plateia, conquistava corações. LOT eram os génios atrás de guitarras, teclas e sintetizadores, traziam o seu jovem registo “Mother Board” e a certeza de deixar algo memorável para o público ali presente. Pelo menos para aquele público que não arredou pé por nada, mesmo após o início da actuação de Dillaz no palco principal que acabou por deixar uns LOT de plateia injustamente despida.

Ouviu-se o ainda curto repertório da banda com muita atenção e pé leve. Não faltaram as fantásticas “Mary Jane”, “Stayin in Tonight” e “Take a Look”, sem esquecer a magnífica versão de “All I Need” dos Air. “Take a look” – “dêem uma olhada, é o que vos pedimos” – nós demos e os nossos maiores medos confirmaram-se. Este Palco Delta, na sua pequenez fraca acústica, é um verdadeiro infinitésimo para uns LOT capazes de actuar em qualquer palco, em qualquer festival, em qualquer parte do mundo. Eles dizem que regressarão um dia. Só nos resta aguardar impacientemente – e que se faça justiça.

À chegada ao recinto já se faziam sentir mudanças. De bilheteiras repensadas, agora com a segurança necessária, a um visível reforço policial na entrada para o recinto, tudo fazia prever que os incidentes da noite anterior não se voltariam a repetir, que a noite tinha tudo para ser memorável – e foi. Os Ronda da Madrugada abriam o palco Azores Airlines e conseguiam a proeza de trazer um público considerável a tempo e horas para o Monte Verde Festival – não fossem os Ronda! Capazes de actuar em qualquer horário, mas especialmente eficazes em horas de plateia cheia, os Ronda da Madrugada mostraram como se faz a festa. Do alto do seu folk de sorriso rasgado, fizeram uma plateia generosa dançar e cantar ao som dos seus grandes êxitos. Não podiam faltar “Sou Serrano”, “Hoje”, “Batam Palmas” ou “Modus Operandi”. É caso para dizer – a música açoriana está bem e recomenda-se!

Seguia-se o poder da palavra. Valete trazia o seu “Rap Consciente”, o verdadeiro hip hop tuga, o verdadeiro “rap de revolta, pronto para qualquer embate”, o “rap de combate”, o rap de palavrada afiada, sentido crítico e passado pesado. É inegável o poder do rap, o poder da mensagem. Sejamos mais ou menos fãs do género, é impossível ficar indiferente à mensagem de Valete. “Sempre que dizem que o hip hop é para marginais, eu digo que o hip hop salvou a minha vida”. “Damaia Psicose” é a prova do poder do hip hop, que salvou a vida Valete, inserido numa “geração encarcerada”, num meio de “criminosos”, “toxicodependentes”, “vendedores de narcóticos”. Mensagem política, mensagem de vida dura, mensagem de consciencialização para mundos escondidos por entre selvas de betão.

Após uma década sem editar e com muito poucas actuações ao vivo, Valete regressou com uma força invejável. Numa actuação muito bem conseguida, de projecção inteligente e mensagem sempre presente, Valete prestou a verdadeira homenagem aos “irmãos pioneiros do hipo hop tuga”. Ao segundo dia de Monte Verde Valete conseguiu trazer a actuação que mais nos surpreendeu. E nós nem somos os maiores fãs de hip hop – ou pelo menos não éramos.

Depois de uma noite de Monte Verde Festival completamente ao rubro – com cerca de sete mil festivaleiros – o festival está a chegar ao fim, mas não é caso para alarme. O último dia está aí com um alinhamento que se faz esperar, onde é impossível não destacar Tio, Rinôçérôse, Wolfmother e SebastiAn.

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Foto: © Monte Verde Festival

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