Handwrist – He stretches out the north over the void and hangs the earth on nothing


Handwrist é Rui Botelho Rodrigues, projeto sediado em Lisboa que já conta com 5 discos onde se incluem 4 longas-duração e 1 EP, tudo isto entre Janeiro de 2012 e Setembro de 2013 o que nos leva desde já a aferir da capacidade criativa deste multi-instrumentista. Musicalmente o projeto tem vindo a sofrer uma mutação ao longo do tempo passando de estruturas mais simples e diretas para um rock progressivo e post-rock mais complexo.

He stretches out the north over the void and hangs the earth on nothing é o terceiro longa-duração do projeto o qual foi lançado em Junho de 2013. O trabalho conta com apenas sete faixas em que quase todas elas ultrapassam os 7 minutos de duração, fato que apela claramente à natureza progressiva contida no disco e que se vem afirmando de disco para disco no DNA da banda. Outra coisa não seria de esperar dado que é necessário tempo para explanar todas as ideias do que o músico lisboeta liberta em cada faixa.

“Northernmost” é um instrumental de quase 9 minutos que dá início ao disco de uma forma melódica contando, aqui e ali, com alguns apontamentos mais art-rock onde se vislumbra ainda a influência de Tool, embora não tão evidente como em álbuns anteriores. “Limbo” começa com uma cadência lenta e pesada. Aqui aparecem as primeiras vocalizações, ora limpas ora guturais, por vezes arrastadas, fazendo-nos crer que estamos perante um álbum de Deftones. O ritmo cadenciado e lento alternando com passagens mais atmosféricas e os solos de guitarra incutem uma dinâmica muito interessante à música. “Bones”, a faixa mais curta do álbum, demonstra mais uma vez as diferentes influências de Rui Botelho Rodrigues. Aqui é o grunge dos Alice In Chains (que curiosamente lançaram uma música intitulada “Them Bones”) que vem à tona numa música em compasso lento, pesado e hipnótico. “Lull” é o exemplo perfeito da esquizofrenia que o disco demonstra. Um início calmo que dá lugar a passagens claramente progressivas, quase ao estilo de uns OzricTentacles, terminando num estilo marcadamente noise. Esquizofrenia musical no seu melhor. “Void” segue o mesmo caminho trilhado por “Limbo”, aqui num registo mais sinistro. “Nothing”, com uma entrada dissonante e lenta, cria um ambiente sombrio e funesto que bem podia ser a banda sonora presente numa catedral medieval. Possante, imperial, megalítica, este é, sem dúvida, um dos pontos altos de todo o disco. “River”, a segunda faixa instrumental, complementa a música anterior, onde a atmosfera e a melodia tomam conta dos acontecimentos. Os Anathema de hoje foram, provavelmente, uma influência aqui demonstrada. Há ainda tempo para mais umas demonstrações progressivas assim como um bom solo de guitarra, acabando a música como começou.

Estamos perante um bom disco que de certo será apreciado pelos amantes de post-rock e de géneros mais progressivos. Todo o álbum é uma dicotomia, tanto a nível musical como nos seus pontos fortes e fracos. Se por um lado a diversidade demonstrada pode agradar a gregos e a troianos, por outro, também pode confundir alguns que não estejam habituados a digerir tamanha dose de diversidade estilística. Contudo, não me parece que Rui Botelho Rodrigues estivesse preocupado com estas questões quando criou He stretches out the north over the void and hangs the earth on nothing. Afinal de contas a música é o que interessa e, neste aspeto, nada é deixado a desejar.

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