Hip hop açoriano: da sombra para a luz da ribalta do Tremor


É raro vê-los a subir aos nossos palcos. Mas a internet prova que há quem os siga com atenção. Fazem da palavra ritmada a sua forma de expressão e querem contar as suas histórias. Fred Cabral, Swift Triigga e DML são os rappers açorianos a que o Tremor quer dar mais visibilidade.

A comunidade nos Açores que vive o movimento cultural do hip hop, mais ou menos na sombra, ficará sob as luzes da ribalta, durante a noite de sábado, num espaço do Coliseu Micaelense dedicado exclusivamente a este estilo musical.

 

Fred Cabral

“Louco feliz”. São as palavras com que Fred Cabral se define. O rapper micaelense garante deixar “a alma em cada beat” e diz que fazer música o ajudou na pior fase da vida, e que transporta esse universo para a sua música, abordando temas complexos e controversos, de forma politicamente incorreta. Promete um concerto com mensagem, ‘flow’ e ‘skill’.

Qual foi a tua reação quando soubeste que o Tremor ia dar espaço ao hip hop feito nos Açores?

Fiquei, não só feliz, como também extremamente grato, pois o hip hop regional tem tido bastante impacto nos ouvintes, mas pouca oportunidade nos palcos. É de louvar a iniciativa e tenho a certeza de que a organização não se vai arrepender. Eu agradeço, e o nosso hip hop também.

Há uma comunidade que vive o hip hop em São Miguel?

Sim, há uma comunidade que vive o hip hop na região. A evolução tem sido notória desde há uns dois ou três anos. Têm aparecido mais artistas, e com estilos distintos, o que favorece a cultura, porque abrange vários tipos de público.

Há temas que são relativamente comuns no mundo do hip hop: amor, sexo, crime, o conceito de ‘respeito’, e uma postura de luta e confronto. São clichês? Ou é preciso passar pelas situações para as passar para o papel?

Na minha opinião, para abordarmos um tema, seja ele qual for, é necessário ter conhecimento próprio. Quer na música, quer na vida, deveria ser assim. Portanto, quem aborda um tema por clichê, a meu ver, não esta a ter a melhor forma de estar na sua música. E isso é algo que, a longo prazo, quem ouve vai perceber.

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Swift Triigga 

Sandro G, Eminem, Xeg, Sam The Kid, Regula e Xakal da Gun são as principais influências deste micaelense que se define como “um colaborador no movimento hip hop”, mais do que rapper ou MC. Para o palco vai levar um “som crescido e mais maduro”.

 

Como é que começou a tua ligação ao universo musical do hip hop?

Tudo começou quando, ainda puto, vi pela primeira vez o pioneiro do hip hop açoriano – Sandro G – atuar na praia das Milícias.

O que é que te faz “pegar no papel e na caneta”?

São os motivos do dia-a-dia. Fases boas, outras menos boas. Depende de quando preciso de deitar tudo cá para fora e tentar ser ouvido. Mas tento sempre escrever de forma a poder ajudar quem me vai ouvir.

Sentes que o teu trabalho é reconhecido nos Açores?

Não. Sinto que há pouca divulgação. Por enquanto, a divulgação tem sido feito só pelo Youtube e pelo Soundcloud. As oportunidades são poucas.

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DML

Vem da Terceira e traz na bagagem, não só a ‘mixtape’ “O Meu Regresso”, mas também alguns temas novos que ainda não foram editados. Por enquanto, vem a São Miguel, mas quando perguntamos até onde podia chegar com a sua música, o horizonte é outro: “o céu é o limite”.

 

Que expressão tem o hip hop na ilha Terceira?

O hip hop na ilha Terceira já é visto de forma diferente, já é relativamente consumido, apesar de ser ainda pouco. O público existe, mas está um pouco formatado pelo hip hop da moda, o que faz com que haja poucos espaços a apostar nesta arte. Já dei muitos concertos na Terceira, mas chega-se a um ponto em que não tens mais por onde atuar, e infelizmente os grandes festivais não têm apostado em rap regional.

Ficaste surpreendido com o convite para o Termor?

Sim, de certo modo fiquei. É sempre bom saber que um festival como o Tremor aposta no rap regional e confia no meu trabalho.

Como defines a tua música, e como te defines enquanto artista?

A minha música é a minha vida, cada som retrata uma fase que vivi, seja ela boa ou má. O rap é a forma que encontrei para me expressar ao mundo, fazendo também com que as pessoas se identifiquem. As minhas maiores influências são quem me rodeia: a minha família, os meus amigos, e todos os que fazem ou já fizeram parte da minha vida.

DML Monotonia (vídeo)

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