IndieU: O desconhecido Pop dos U2


Em 1997, os U2 lançaram o que, na minha opinião, é um dos melhores álbuns de todos os tempos, e, sem dúvida, o melhor dos U2. Chama-se Pop e é muito provável que estejas a ver esta informação pela primeira vez. Todos se lembram de álbuns como Joshua TreeZooropa, mas, para uma grande maioria, o nome Pop passou completamente ao lado. Arrisco-me a dizer que a tournée que adveio deste trabalho foi mais conhecida do que o álbum em si. A Popmart Tour, até aos dias de hoje, é ainda uma das tournées mais caras da história da música. Com um orçamento brutal, os U2 mandaram construir limões gigantes, bolas de espelhos também de dimensões astronómicas, e o que era naquela altura o maior ecrã do mundo. Entre outros apetrechos excêntricos que fizeram parte de todo o conceito ao vivo.

No início de 1997, tinha eu 11 anos, e lembro-me perfeitamente do dia em que vi o videoclip do single “Discotheque”. Não me apaixonei de imediato. Conhecia bem alguns trabalhos dos U2, nomeadamente o Achtung Baby e Zooropa. Nunca mais me esqueço que a minha tia dizia sempre que o som no início da música “Lemon” parecia o dos passos do meu pai. Foram os irmãos mais novos do meu pai que me deram a conhecer U2. Adorava a “Lemon”, para além de ficar no ouvido, tinha algo que me transportava para um mundo assustador e cómico ao mesmo tempo. Concluí, mais uma vez, que um homem a fazer um falsete como o do Bono faz maravilhas por mim.

A paixão propriamente dita surgiu por volta de Abril de 97, quando ouvi o single “Staring at the Sun”. Vi o vídeo uns dias mais tarde, o efeito do visual e sonoro sempre teve um grande impacto em mim, e, felizmente, foram duas coisas que se conjugaram muito bem e aguçaram a minha curiosidade por este trabalho. Mas foi a meio do Verão, penso que em Agosto, a TVI transmitiu, não sei bem porquê, os 30 minutos iniciais do arranque da Popmart Tour na Europa, em Roterdão. Começaram com o tema do Pop, “Please”, passaram por “Where the streets have no name”, “Discotheque”, e “If you wear that velvet dress”. Devem ter sido dos 30 minutos mais rápidos da minha vida. Fiquei completamente hipnotizada com o conceito e com todo aquele show audiovisual, e com a presença daqueles 4 músicos cheios de personalidade. Nesta altura ainda não tinha ouvido o álbum na íntegra. Implorei ao meu mentor musical da altura que adquirisse este trabalho porque eu queria ouvir e aprender sobre estas músicas, e ele acabou por o fazer. Passámos horas a ouvi-lo e estudá-lo, a ver letras e acordes. As faixas eram todas tão diferentes da sonoridade U2 que, aqueles que só conhecem esta banda através de grandes sucessos como “With or without you” ou “Elevation”, nunca diriam que “Mofo” ou “Miami” são temas dos U2.

Caracterizando a sonoridade deste álbum, eu diria que é rock alternativo, alternando e brincando um pouco com música electrónica. É evidente que o “The Edge” andou a experimentar pedaleiras de efeitos e riffs a torto e direito, e que os samplers foram ferramentas indispensáveis na elaboração de Pop. A única música que é 100% U2 neste álbum é “If God will send his angels”, tema da banda sonora do filme Cidade dos Anjos, é a típica “balada” U2, com o usual som de guitarra e emotividade chorosa da voz de Bono. Nada contra, é, na mesma, um tema muito bonito, com uma grande carga emotiva como só Bono sabe escrever e interpretar.

É assim que, 16 anos depois, presto homenagem ao álbum que definiu a maneira como eu encaro a música e a novidade que ela traz ao quotidiano. Para mim, não basta fazer boa música, é preciso ser-se novo, fresco e ter um grande conceito por detrás. A todos os que desconheciam este trabalho, fica aqui a recomendação, espero que apreciem e que, de alguma forma, esta sonoridade traga também uma lufada de ar fresco à vossa vida.

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