Já está a decorrer o “1º Assalto” dos Ladrões do Tempo


“Mãos ao ar! Isto é um assalto!”. Chegaram os Ladrões do Tempo, a banda que junta Zé Pedro e Tó Trips, lado a lado nas guitarras.

Este “1º Assalto” – nome do álbum de estreia da banda – foi planeado durante quatros anos – o tempo que passou entre o início da banda e o lançamento do primeiro trabalho de estúdio – e tem, por isso, tudo para correr bem.

É possível que o próprio nome da banda seja uma pista para perceber a demora em apresentar o primeiro álbum. Será que o nome foi escolhido pelo facto de ter obrigado os elementos da banda a roubar tempo aos seus projectos originais?

É preciso lembrar que Zé Pedro pertence a uma das bandas mais ocupadas do país – os Xutos e Pontapés –, Tó Trips dedica a maior parte do seu tempo aos Dead Combo, Paulo Franco é membro dos Dapunksportif, Dony Bettencourt pertence aos Dead Cats Dead Rats, e Samuel Palitos marca o ritmo dos Censurados, de A Naifa, e dos GNR.

Ou será que a ideia de ‘roubar tempo’ surge pela escolha do estilo musical, que está longe de estar na moda. Aliás, sem querer tirar mérito à música da banda, fico com a sensação que o mediatismo dos Ladrões do Tempo se explica, acima de tudo, pela grandeza dos nomes de Zé Pedro e Tó Trips, dois dos mais conhecidos guitarristas portugueses da atualidade.

Na ribalta da música portuguesa reina a pop, o indie, o hip hop, e as diversas abordagens modernas ao fado. Os Ladrões do Tempo estão a conseguir deixar a sua marca nos tops de vendas, um pouco contra a corrente, no que diz respeito ao estilo musical.

“1º Assalto” só podia ser um álbum sólido e consistente, ou não tivesse saído das cabeças e mãos de músicos muitos experientes. Rock simples e direto do primeiro ao último acorde, sem baladas, sem solos e sem rodeios.

Com uma atitude punk, as letras das canções põem a poesia de lado, e são quase sempre simples e diretas. A principal excepção é mesmo a improvável versão de “Mora na Filosofia”, um samba de Monsueto Menezes celebrizado por Caetano Veloso.

Com uma duração de pouco mais de meia hora, o disco de estreia dos Ladrões do Tempo passa a correr. Falta de tempo para escrever mais canções ou estratégia? Não sei. Mas, se por um lado soube a pouco, por outro, deixou a vontade começar de novo. E foi o que aconteceu… várias vezes.

Lembrei-me agora que “tempo é dinheiro”. Talvez estes ladrões tenham escolhido bem aquilo que querem roubar.

Ladrão que rouba ladrão, tem 100 anos…

… de perdão. “Mora na Filosofia” é uma agradável supresa deste “1º Assalto” dos Ladrões do Tempo, que roubaram esta pérola da música brasileira celebrizada por Caetano Veloso na década de 70. O tema original de Monsueto Menezes e Arnaldo Passos, de 1955, foi distinguido como “melhor letra do ano”. Os Ladrões do Tempo conseguiram transformar este samba num rock tenso e sentido, respeitando quase na íntegra a letra da canção, fazendo apenas ligeiras adaptações para soar a português, de Portugal.

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