Jardim Fest 2019: música, boa disposição e família


Conforto. Conforto é algo que certamente não assiste à rapaziada. Qualquer adolescente ou jovem adulto que se preze valoriza muito mais um copo de vodka na mão e um DJ barulhento até às 7 da manhã, momento em que entra em cena um qualquer outro DJ ainda mais barulhento. Talvez por isso o público do Jardim Fest se destaque tanto no contexto dos festivais de verão em São Miguel.

Aqui tudo é feito a pensar na família. Há espaço – muito espaço – para sentar, conversar, conviver. Há um sem número de bancas de artesanato e associações, um dia dedicado exclusivamente às crianças, que este ano contou com o inigualável Avô Cantigas, e até há luz verde para entrada de cães no recinto – como é obvio, também levámos o Croquete a dançar zumba no Sábado.

No meio de tudo isso, há música q.b., sem exageros, com uma banda de renome em cada um dos dias, ladeada por DJs adeptos do vinil e da boa música, e uma banda regional, para mostrar o que temos de bom, o Jardim Fest consegue atingir um excelente equilíbrio entre convívio e qualidade musical. E, também importante, o recinto fecha pela uma da manhã, a tempo de não desperdiçarmos qualquer dia do fim-de-semana com dores de cabeça ou algo que o valha.

Posto isso, vamos a música. A primeira noite contou com os bem dispostos Virgem Suta. Pop rock direto, simples e agradável, onde não faltaram os grandes êxitos como o obrigatório “Linhas Cruzadas”. Apesar de a casa estar a meio gás, e de muita gente estar na conversa, os Virgem Suta dizem-se “muito felizes nos Açores”. Mesmo assim, o nosso destaque não poderia deixar de ir para a prata da casa.

A abrir a noite, bem cedinho, houve “synth pop com pimenta da terra”. Sobre um fundo estrelado lia-se WE SEA. A música cantada em português, com um sotaque micaelense que não teme palavras, com uma linha de baixo bem marcada e uns sintetizadores viciantes trazia um som singular, inigualável, que aguça a curiosidade. A verdade é que ao vivo a música dos WE SEA não perde o menor encanto e a cada audição mergulhamos um pouco mais fundo no imaginário do duo mais criativo a atuar atualmente nos Açores. Podemos dizer, sem receios, que WE SEA é música relevante, única, (por acaso) feita nos Açores e válida em qualquer parte do mundo.

Depois de uma tarde de música para relaxar, zumba e boa disposição, a noite de sábado começou com Nuno Cabral. O músico bem conhecido do público micaelense deixou os covers em casa e trouxe um concerto repleto de originais, acústicos como sempre, mas agora com a companhia de Vasco Cabral também nas cordas. É mesmo caso para dizer que a música feita nos Açores nunca esteve tão bem!

A grande espectativa do Jardim Fest caía sobre os HMB com a sua energia inconfundível. Corajosos, começaram a sua atuação de plateia vazia, com o público escondido debaixo de árvores à conta da chuva. Como a sorte protege os audazes, não houve pinga que caísse no Parque Urbano durante duas horas e houve funk, funk e mais funk – e quem tem funk, tem tudo! Com 9 músicos em palco, um duo de sopros fantástico, um coro que dá vida e uma presença incrível, os HMB transformaram o “Jardim Fest” no “Jardim HMB”. Tiveram a ajuda de uma plateia curta, mas de grande qualidade e entrega – é aqui que uma plateia de “velhos” vale bem a pena. Houve tempo para muita dança coordenada por Héber Marques, muitas palmas, diversão e atitude. Não faltaram ainda os grandes sucessos, onde saltam à memória “O Amor é Assim”, “NAPTEL XULIMA” ou “Feeling” também cantados pelo público. Simplesmente memorável – mal podemos esperar pelo regresso aos Açores.

Este ano já está, mas o Jardim Fest vai continuar a trabalhar para manter a família unida. Ainda não há datas oficiais para 2020, mas vamos esperar que não nos falhem. A receita está afinada, falta apenas o público corresponder ao trabalho feito e aparecer em número para pintar a colina do Parque Urbano. Cá vos esperamos!

Foto 1 - Nuno Cabral

Nuno Cabral –  © Your Dance Insane / Carlos Cabral de Melo

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Foto de Destaque: WE SEA © Your Dance Insane / Carlos Cabral de Melo

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