Jesus Christ Supertar


Para quem não sabe, o  Jesus Christ Supertar é um concept álbum, um espectáculo da Broadway e um filme. Transversalmente a estes “3 formatos”, é uma Rock Ópera. Foi escrito por Sir Andrew Loydd Webber (música) e Sir Tim Rice (letras).

 O concept Album foi lançado em 1970.  Um facto que muita gente desconhece é que o lead singer, ou seja, no papel de Jesus  estava Ian Gillan, nada mais nada menos do que o vocalista de uma banda que vivia um sucesso mundial na altura…os Deep Purple

O Jesus Christ Supertar é o mais Rockish dos trabalhos de Lloyd Webber. A presença de Ian Gillan ( e mesmo dos restantes músicos de sessão, como Jonh Gustafson, Chris Spedding ou Mike Vickers) parece ter contribuído para tal. No entanto, nota-se claramente os elementos clássicos.  As mudanças rítmicas abruptas e as alterações de compassos sugerem um ambiente progressivo que entraria em voga no desenrolar dessa década.  O tema “Everything’s Alright“, no alto do seu 5/4 ,  faz lembrar o “Take five” de Dave Brubeck. É um dos momentos musicais mais fortes do disco.

Devido ao forte calendário de digressões dos Deep Purple, o espectáculo da Broadway já não contou com Ian Gillan, que também já não foi a escolha para o filme. E em boa hora. Mesmo sendo grande apreciador do trabalho de Gillan ( é assumidamente A VOZ dos Deep Purple), Ted Neeley foi a escolha mais acertada para interpretar as letras de Tim Rice no grande ecrã.

Além da constituição física necessária para o papel, Ted Neeley eleva a outro patamar os temas que interpreta. Nesse mesmo panteão temos forçosamente de incluir Carl Anderson (Judas) e Yvonne Elliman (Maria Madalena).  O filme (aliás, a obra) gira em torno destes três personagens. As falas, as músicas, e emotividade.

Juntamente com “Everything’s Alright”, os temas “”I Don’t Know How to Love Him” (Maria Madalena) e “Damned for All Time“( Judas) . Demonstram a graciosidade e o poder vocal de Yvonne Elliman e Carl Anderson respetivamente.

Fora deste leque há ainda o tema “King Herod’s Song (Try It and See)“. A visão do realizador Norman Jewison para o Rei Herodes está excelente e vem complementar visualmente uma ideia de cabaret, que…vendo bem as coisas é dos momentos musicais mais “pobres” do filme. Vale mesmo apenas pelo estímulo visual dos personagens e coreografia.

Do lado oposto temos o “Pilate’s Dream“. É um tema que nos passa ao lado as primeiras vezes que ouvimos, até porque no ecrã não se passa quase nada a não ser um Pilatos apreensivo com toda a situação que se está passar. Mas é dos temas mais harmoniosamente interessantes se escutado com atenção.

Também temos no dueto entre Caifás e Anás em “Then we are decided” outro dos melhores momentos do filme (este filme só tem bons momentos). A música acompanha a preocupação de Anás e realça a determinação de Caifás, para depois culminar mais à frente no filme com “This Jesus must die“, como se estivessem os dois a fechar um negócio.

No geral, o disco e o filme dão a sensação de terem sido gravados numa jam session. Com imperfeições, facilmente notadas nos fill in’s de bateria. Mas caramba!! Como eu adoro ouvir aquelas entradas aparentemente fora de tempo. Isso nota-se claramente no tema “What’s the Buzz?“. Este tema também expõe o poder funky de Ted Neeley, mas a sua melhor interpretação está possivelmente em “Gethsemane (I Only Want to Say)“. Um tema musicalmente e liricamente forte. Um flash back das ideias musicais mais recorrentes ao longo da obra onde Neeley demonstra todos os seus atributos e talentos; emotividade, interpretação, poder e alcance vocal.

Há temas que, bem, não atraiem tanto a atenção, mas são fulcrais na ligação entre cenas. É isso que faz uma grande obra, a maneira como as coisas todas se encaixam.

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