João da llha carrega a insularidade na profundidade da sua voz


João da Ilha é o nome artístico escolhido por João Pedro Leonardo, um músico terceirense que se define como cantautor e que se tem destacado no panorama nacional como compositor e intérprete.

Apresenta-se frequentemente sozinho em palco, com o seu violão e uma voz cheia, poderosa e com tonalidades profundas. João da Ilha recebeu, no passado dia 8 de novembro, o prémio para a Melhor Composição Original, no âmbito do Angra Sound Bay 2019. Recentemente, estivemos à conversa com ele, na sua cidade natal, Angra do Heroísmo, para onde regressou, depois de alguns anos pelo Continente.

João queria que o seu nome artístico refletisse a sua identidade açoriana e usou-o pela primeira vez num concerto a solo, numa noite de música acústica, num espaço chamado “Crew Hassan”, em Lisboa. Nascido em 1979, em Angra, viveu por cá até aos 20 anos, momento em que abalou para o Continente, para prosseguir estudos, em Setúbal, numa área, gestão de recursos humanos, que veio a abandonar mais tarde, por confessada falta de vocação.

Quanto às lides musicais, iniciou-as ainda na ilha mas só veio a desenvolver o seu talento no âmbito universitário, entre 2001 e 2004, com a tuna da sua academia. Posteriormente, entre 2005 e 2008, dedicou-se mais seriamente à aprendizagem do violão e do canto, tendo sido aluno de guitarra clássica do professor timorense António Ribeiro; fez também parte do Coro do Instituto Politécnico de Setúbal, frequentou aulas de guitarra jazz na Escola do Jazz do Seixal e teve aulas de canto com a professora Guida de Palma. A partir de 2008 iniciou então uma carreira de músico profissional e cantautor, criando temas próprios e interpretando composições de outros músicos em programas de animação, em bares, hotéis ou eventos diversos. Neste período, pontualmente, veio atuar à ilha Terceira, em festas populares e nas Sanjoaninas, em 2010. Depois de regressado à ilha, atuou, de novo, nas Sanjoaninas e nas populares festas de S. Bento deste ano, onde o ouvimos e aplaudimos pela primeira vez.

Para além das lides musicais, o João fez também formação profissional na área da produção de espetáculos e tem trabalhado como freelancer nesta área, em trabalhos que envolvem som, luz, vídeo, programação e produção; neste contexto, interveio em festivais, festas populares, numa companhia de dança em que chegou a estar como técnico residente e numa companhia de teatro, que acompanhou a um festival em Edimburgo, na Escócia.

Para compor, o João inspira-se sobretudo nas relações humanas e no desenvolvimento pessoal, mas há sempre, naturalmente, uma forte presença dos Açores na sua música, que se traduz na abordagem de temas como a saudade, a nostalgia, as festas, a alegria, o mar, o verde e toda a paisagem envolvente.

Confessa que tem um gosto eclético e ouve música variada, mas atualmente tem preferência pelo jazz (sobretudo o de fusão), por música pop/rock alternativa, alguma música eletrónica com fusão étnica, world music, rock e metal progressivo, alguma coisa da era “Grunge” e incursões na música clássica, nomeadamente Bach e Mozart. Tem uma vasta lista de influências diversas, onde se destacam nomes como Sérgio Godinho, Jorge Palma ou Zeca Afonso, a nível nacional, Zeca Medeiros, Luís Alberto Bettencourt e Luís Gil Bettencourt, nos Açores e nomes tão diversos no estrangeiro como Sting, Caetano Veloso, Paco de Lucía ou Faith No More, entre outros.

João diz-nos que voltou à ilha por razões pessoais e por sentir necessidade de estar mais perto das suas raízes, da família e dos amigos. O projeto a que se tem dedicado ultimamente é a promoção ao vivo do seu último álbum, “Mares de Indecisão” (finais de 2018), tanto com o seu núcleo de músicos e amigos do Continente (Filipe Silva, bandolim e trompete, Sandro Maduro, baixo e coros e Manu Teixeira, bateria) como com músicos da Terceira (Paulo Cunha, baixo e contrabaixo, Timmy Lima, guitarras ou o Nuno Pinheiro, na bateria). Sobre este este trabalho, pudemos ler que “(…)  reporta-nos para uma insularidade surpreendente em que a condição de ilhéu é um verdadeiro privilégio”. Os seus projetos futuros passam por gravar novas canções aqui na ilha, com músicos locais e explorar outros instrumentos, estilos e atividades, como musicar poesia e peças de teatro ou compor bandas sonoras.

Relativamente à música original composta nas ilhas açorianas, o João considera o futuro auspicioso, tendo em conta os novos talentos que têm surgido nos últimos anos, desde que os músicos enfrentem com resiliência as dificuldades que nos são próprias, como os problemas de mobilidade, decorrentes dos custos absurdos das passagens aéreas e a falta de um plano estratégico ao nível da cultura açoriana que crie um circuito artístico regional e promova a música açoriana além-fronteiras. Aponta como exemplo positivo o trabalho de alguns municípios nacionais, de associações como a d’Orfeu, em Águeda e a estratégia cultural da Islândia, a nível internacional.

Mais informação e a música do João da Ilha podem ser encontradas em todas as plataformas comerciais de divulgação musical, assim como em todas as redes sociais, no youtube e em páginas específicas.

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Foto: © Timmy Lima

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