Katatonia, a beleza da melancolia.


Todos nós temos uma banda especial que, por uma razão ou outra, nos marcou duma forma diferente das restantes. Confesso que me é difícil eleger uma mas os Katatonia desde cedo reservaram um lugar especial nos meus tímpanos.

A banda foi formada por Jonas Renske (voz/bateria) e Anders Nÿstrom (guitarra/baixo) no já longínquo ano de 1991 em Estocolmo. Juntos lançaram a primeira demo Jhva Elohim Meth em 1992 demonstrando desde já um promissor arranque com o seu sludge-doom metal e, aqui e ali, com uns toques de black metal. O sucesso da demo no circuito underground levou-os a assinarem um contrato com a Vic Records e no ano seguinte relançaram o primeiro trabalho no formato de EP. O sucesso da banda levou à contratação de Guillaume Le Huche para o baixo e, no mesmo ano de 1993 lançaram o seu primeiro longa-duração Dance of December Souls através da No Fashion Records, um álbum que começou a denotar algumas influências extrógenas ao género preconizado no EP de estreia como The Cure ou Sisters of Mercy, bandas que nunca foram negadas como influências nos elementos da banda. Dois anos depois, em 1995, mais um EP foi lançado de seu nome For Funerals To Come… desta vez lançado pela Avantgarde Music. 

Com alguma dificuldade em manter uma banda coesa para tocar ao vivo, os elementos fundadores decidiram explanar as suas ideias em outros projetos e em 1996 voltaram a juntar-se, substituíndo o anterior baixista por Fredrik Norrman nas guitarras, enquanto que Nÿstrom assumiria o duplo papel de guitarrista solo e baixista. Nesse ano gravaram o segundo álbum Brave Murder Day que, ainda hoje, é visto como um dos clássicos da banda durante o seu período mais pesado. A banda deixara o black metal de lado para se focar mais no doom/death metal que vinha a surgir com força na altura com bandas britânicas como Anathema ou My Dying Bride. Em 1997 Mikael Oretoft veio ocupar o posto do baixista deixando Anders Nÿstrom focar-se apenas na guitarra e editaram o terceiro EP intitulado Sounds of Decay e, no ano seguinte, repetiram a dose com o EP Saw You Drown. A banda começava a ser conhecida não só pela sua profícua criação de material original mas também pela qualidade dos seus EP’s, algo que é utilizado por muitas bandas apenas como uma introdução a um álbum ou sinónimo de alguma falta de inspiração em certos períodos das suas carreiras. Com os Katatonia nunca foi assim. Os seus EP’s sempre foram vistos como material de extrema qualidade e com músicas que não figuravam nos álbuns que antecediam, sendo que muitos deles alcançaram o estatuto de relíquias dado o estatuto de edição limitada que lhes foram atribuídos.

Nesse mesmo ano de 1998 a banda sueca lançou o seu terceiro longa-duração, Discouraged Ones, o qual viria a marcar um virar de página na carreira da banda. Por um lado, este foi o último trabalho a ser editado pela Avantgarde Music e, por outro, marcou uma mudança radical no estilo da banda, o que se faria notar até aos dias de hoje. Jonas Renske passou a cantar de forma limpa, contando com a participação especial do amigo Mikael Åkerfeldt dos Opeth nas vozes guturais, e a banda passou para um registo mais rock. Algo que nunca se alterou foi a fidelidade dos fãs apesar da mudança de rumo da banda. Quantas bandas viram inúmeros fãs afastarem-se quando realizaram as mesmas mudanças? Com os Katatonia não, muito pelo contrário, viram alargado o número se seguidores ao trilharem outros caminhos. Essa coragem foi recompensada ao alcançarem outros públicos mas a manutenção de um fio condutor nos temas centrais cantados pela banda como a depressão, a melancolia, o crime ou a morte, fez com que os muitos dos antigos fãs se mantivesse como tal. Mantendo a sua regularidade de lançamentos, no ano seguinte lançaram o quarto álbum, Tonight’s Decision, o primeiro através da Peaceville Records, editora com a qual se mantiveram fiéis até hoje sendo uma das principais atrações da discográfica britânica. Estilisticamente o álbum manteve o rumo traçado pelo álbum anterior mas contou com mais uma alteração na formação da banda. Renske focou-se unicamente nas vozes limpas, Norrman acumulou a guitarra ritmo e o baixo enquanto que Dan Swanö, músico sueco com inúmeros projetos musicais, foi convidado para participar no álbum como baterista de sessão. Passaram-se então dois anos até ao próximo lançamento, em 2001, o qual mostrou-se bastante produtiivo. Dois EP’s e um longa-duração foram lançados neste ano. O álbum Last Fair Deal Gone Down foi antecedido pelo EP Teargas e seguido por outro, Tonight’s Music. Este ano é, provavelmente, não só em termos de quantidade mas, fundamentalmente, em termos de qualidade, um dos mais importantes na carreira da banda, pelo menos assim dizem os fãs. Marcou, igualmente, a contratação a bateria do músico Daniel Liljekvist e de Matias Norrman para o baixo, irmão de Fredrik Norrman.

Dois anos passaram até ao lançamento de Viva Emptiness, em 2003, um disco que surgiu como uma lufada de ar fresco na já longa carreira da banda. O álbum denota um rock mais sofisticado e moderno mas denotando um aumento do “peso” debitado pelas guitarras. A qualidade, esta, manteve-se intacta apesar da ligeira mudança de direção. A partir daqui os lançamentos foram ficando mais espaçados, como se a banda levasse mais tempo para aprimorar as suas obras-primas. Foram precisos três anos para o lançamento de The Great Cold Distance, álbum que continua a viagem começada no álbum anterior por caminhos mais progressivos e pesados onde já é possível ouvir algumas vozes guturais em pano de fundo. Pelo meio a banda lançou duas compilações e um single. Mais três anos se passaram em que a banda editou dois singles e um álbum ao vivo, Live Consternation, e em 2009 sai o álbum que funciona como mais um marco na carreira da banda. Night  Is The New Day, é visto como um dos álbuns mais sólidos da banda funcionando como uma mescla de estilos denotados pela utilização de instrumentos pouco usuais na banda como sintetizadores e piano. Influências de Opeth Porcupine Tree, por exemplo, fazem notar sobejamente neste álbum, bandas com as quais os Katatonia trabalharam ao longo de das  suas tours. Três singles e um EP pelo meio (The Longest Year), eis que surge Dead End Kings, o nono álbum da banda que foi acompanhado por mais uma mudança na formação da banda: saem os irmãos Norrman e entram Niklas Sandin para o baixo e Per Eriksson para a guitarra. Mais uma obra de arte progressiva e dinâmica que poderá levar mais algum tempo a entranhar-se nos ouvintes mas que, mais tarde ou mais cedo, alcançará o seu objetivo naqueles mais persistentes.

Os Katatonia são daqueleas bandas intemporais que se demarcam das restantes pela criação do seu “próprio” estilo. Tal afirmação poderá parecer irónica tal foi a mudança estilística durante a longa carreira da banda como foi explanado anteriormente. Contudo, a regularidade dos lançamentos e a qualidade dos mesmos são a demonstração de que a mudança também pode ser positiva desde que seja para melhor como foi sempre o caso desta banda de Estocolmo. Para quem não conhece a banda poderá ter a certeza que encontrará nestes suecos a prova cabal de que a melancolia também pode ser bela desde que executada com mestria como é o caso destes suecos. Aventure-se e verá que fará uma viagem sem retorno.

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