Maré de Agosto: “Este festival não é para meninos”


A Maré de Agosto 2016 tem um cartaz de excelência a pensar num público que quer ver bons espetáculos e ouvir boa música.

 

A Maré de Agosto está de volta e abraça a sua vocação de festival de música do mundo de forma expressiva.

A primeira noite de festival é prova disso mesmo, com Pat Thomas & Kwashibu Area Band, do Gana, a trazer os ritmos e as sonoridades africanas. É verdade que niguém vai perceber as palavras cantadas por Part Thomas, mas isso pouco vai interessar quando a harmonia do afrobeat pop se começar a espalhar pelo recinto da Praia Formosa, forçando as ancas – até do mais desengonçado festivaleiro – a abanar levemente. Haverá melhor forma de começar a Maré?

A noite continua com Maria Gadú, a brasileira que ganharia a medalha de ouro se a composição de baladas fosse modalidade olímpica. Como a música é muito mais do que um desporto, Gadú não vai estar no Rio de Janeiro, mas sim em Santa Maria.

Para completar a volta ao mundo numa só noite, depois de África e América do Sul, voltamos à Europa, para dançar ao som do Flamenco moderno de Marinah Ojos de Brujo, a espanhola que junta instrumentos elétricos à tradicional guitarra clássica. Batam palmas, batam os pés e soltem o flamenco que há dentro de cada um.

Como qualquer volta ao mundo só fica completa com o regresso a casa, a primeira noite de festival fecha com Luís Varatojo – uma espécie de camaleão português que fez parte de bandas tão diferentes como Peste & Sida, Despe e Siga, A Naifa, e que agora toca com Gabriel Gomes no projeto instrumental Fandango – aos comandos da mesa de mistura.

Depois de algumas horas de sono – aquelas que o sol permitir a quem vai dormir numa tenda – aconselha-se um bom mergulho no mar para ajudar a ultrapassar os excessos cometidos na noite anterior, e algum repouso, porque o rock é a palavra de ordem da segunda noite. E vai ser sempre a subir de intensidade.

Primeiro sobe a palco King John, o açoriano que se deu a conhecer há pouco mais de um ano e cujo inegável talento na guitarra e na voz lhe valeu uma explosão de reconhecimento, levando-o a palcos um pouco por todo o arquipélago, assim como a Lisboa, Porto e Londres. Uma saudação à organização da Maré de Agosto por voltar a prestar atenção à música de qualidade que se faz nos Açores, dignificando os nossos artistas com um lugar no palco principal. Uma situação que já não acontecia há alguns anos. Esperemos que seja uma aposta para continuar.

A festa do rock segue com Fuel Fandango, um duo espalhol que junta a “batida eletrónica dançante com uma sensação flamenco e a energia do rock and roll”, como tão bem define a sua apresentação no site do festival. Para fechar a noite, o punk rock altamente enérgico de The Deaf vai transportar a Praia Formosa para os longínquos anos 70.

Depois do sucesso do concerto de Mariza, na edição de 2014, o fado volta à Maré no início da última noite, desta vez na voz de Carminho, uma das fadistas mais influentes da atualidade. Não se esperem só tristezas, na mala virão concerteza muitos fados para alegrar a alma e para dançar.

África volta a estar em palco na última noite, desta vez através da costa-marfinense Fatoumata Diawara, que junta jazz e blues à música africana e põe tudo isso ao serviço das causas humanitárias em que acredita.

As preocupações sociais e a luta contra as injustiças vão continuar em cima do palco até ao fim da noite com O Rappa, a banda brasileira que, pelas rimas de Falcão, canta um Brasil maravilhoso, mas desigual. Rock, Reggae, Rap e Música Popular Brasileira para fechar mais uma Maré de Agosto que vai deixar saudades.

 

Palco Castelo volta a dar música na Maré

O regresso dos artistas açorianos ao palco principal da Praia Formosa não é o único regresso a festejar nesta 32ª edição da Maré de Agosto. De regresso está também o Palco Castelo. Um palco alternativo, que abre todos os dias por volta das 3h45, e onde, num ambiente mais intimista, vão atuar Bloom – o mais recente projeto de JP Simões -, Marcos Santos, e Fandango – o projeto instrumental que Luís Varatojo e Gabriel Gomes. O Palco Castelo é uma excelente alternativa para quem não é particularmente fã de ‘raves’, que tem assim oportunidade para assistir a mais um concerto “orgânico”, e depois prolongar a noite com Djs com um som mais alternativo, num ambiente mais familiar.

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Fotografia em destaque: Fuel Fandago (© Aurora)

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