Monterey 1967: o primeiro grande festival


Hoje já não há lugar na terra, salvo o exagero, que não tenha o seu festival. Uns maiores outros mais pequenos, acabam uns começam outros, mas na data exata lá estão eles. Há sessenta anos não era assim e alguns dos festivais americanos ficaram na história. Não que não tivéssemos o nosso Vilar de Mouros, estreado em 1965, sendo o de 1971 chamado o Woodstock português com a participação, vejam lá, de Elton John, Manfred Man e, salvo erro, Nice. Terá sido aqui que nasceu a expressão “hippie de Alcochete”? Não sei.

Os grandes festivais dos anos 60 nos EUA e em Inglaterra realizam-se de um modo geral sob o signo Hippie, numa altura em que a cultura Hippie já atingira o seu auge na São Francisco de 1966 e era rapidamente recuperada pelo Capitalismo. Nascem, pois, de um equívoco, e de um modo geral serviram interesses individuais. Especialmente os dos músicos, como rampa de lançamento  ou para assentar em definitivo uma carreira. Da parte do público, o slogan hippie serviu apenas como pretexto para uns fins-de-semana de grande paródia sob o signo das drogas e do amor livre. O sonho hippie desfizera-se e as imagens finais de Woodstock mostram muito bem aquela espécie de campo de batalha em que deixaram a área do espectáculo. Se ainda se apelava ao fim da guerra do Vietname, a ecologia, uma das suas bandeiras, era miseravelmente esquecida. E o pior estava ainda para vir.

Monterey pode ser considerado o primeiro grande destes festivais. Antes já tinha havido outros mas os nomes aqui envolvidos obrigam a que se fale nele em primeiro lugar. Foi organizado por Lou Adler, um oportunista, tal como Cher e tantos outros que aproveitam a “onda” a seu favor, Alan Pariser, John Phillips, dos The Mamas and The Papas e Dereck Taylor. Da comissão faziam parte Beatles e Beach Boys. Nenhum deles chega a tocar, os Beatles porque a sua música se complicara excessivamente para ser tocada ao vivo e os Beach Boys aparentemente por não ganharem nada com o caso. Jimi Hendrix apresenta-se na América, vindo da Europa, em plena forma e faz o que será o seu melhor concerto de sempre (toca uma extraordinária cover de Like a Rolling Stone homenageando Dylan, que não pode estar presente devido a um acidente de mota). Estreiam-se também os ingleses The Who e o indiano Ravi Shankar, todos com um êxito que os acompanhará pelo resto da vida. Janis Joplin (que morrerá 3 anos depois), acompanhada pelos Big Brother and the Holding Company, e Ottis Redding (que morre alguns meses mais tarde) já não eram desconhecidos mas tocam para um público alargado que os leva em ombros.

Lá estiveram também Country Joe and The Fish, Simon & Garfunkel, The Byrds, The Mamas and The Papas, Jefferson Airplane (uma das maiores atracções do festival), Grateful Dead, Eric Burdon and The Animals, Canned Heat, The Association, Booker T. & the M’s, Hugh Masakela, The Electric Flag (grupo onde estava o grande e hoje quase desconhecido Michael Bloomfield), The Paul Butterfield Blues Band, e The Blues Project. A célebre canção San Francisco cantada por Scott Mckenzie foi feita para publicitar o evento. Por outro lado, os “galifões” das editoras lá estavam e houve contratos para todos os gostos e feitios. Apesar de tudo pareceu-me o melhor de todos, o que se aproximou mais do espírito e onde os músicos estavam em melhor forma.

Monterey67

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Fotos: Diretos Reservados

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