Noite de rock com lua cheia


A Lua vai alta, e cheia. O mar jaz ao fundo e o contorno acidentado das montanhas enquadra a noite perfeita. Chega a ouvir-se o bater das ondas. No primeiro dia de Maré de Agosto chovia a potes, no segundo vivia-se uma fantástica noite – está tudo pronto para entrar o Rei.

“Além de um extraordinário músico, King John é um homem de alma” diria Jaime Sousa, o baixista que o Rei fez questão de tirar da reforma. Talvez este seja mesmo o segredo para o repentino sucesso de António Alves – música com alma. O blues arranhado do Rei não deixou ninguém indiferente, com guitarradas à antiga, pêlo na venta e uma presença de fazer inveja a qualquer veterano de grandes palcos. Houve muita música nova e pronta para sair em Outubro com o EP “Blues Better Than Terapy”, mas nada bateu os clássicos “500 Miles From Home” ou “Cool by Association”. E claro, será impossível esquecer aquele “Tale of a Golden Child”, numa intensidade arrepiante. No final ficámos com uma só certeza – se King John tem a sorte de fechar a noite, parte tudo!

A noite acabaria toda partida, mas só depois do trabalho árduo dos The Deaf, a última banda a subir ao Palco Maré. Com uma plateia curiosamente difícil, a banda holandesa começou o seu concerto com a força toda – “Are you ready to go crazy?”, gritava Spike von Zoest. Demorou, mas com uma incrível pujança os The Deaf arrancaram o lado mais rockeiro do público da Maré. “Can we come back next year?” – “yeah!”, respondeu-se em uníssono.

Antes do punk rock holandês viu-se uma fusão de estilos bem ao jeito da Maré de Agosto. O rock, o flamenco e a música electrónica fundem-se em Fuel Fandango,  num resultado soberbo a fazer dançar até o maior pé de chumbo. Nita – a enérgica vocalista que se passeia de leque e faz sapateado – dá o exemplo e não pára um só segundo em cima do palco. O público responde à letra e liberta-se, a noite ganha uma nova alma, uma alma latina.

Noite memorável, manhã sempre árdua. O sol está finalmente de regresso à Praia Formosa, para infelicidade de qualquer campista. Faz parte, mas já se recupera para mais uma noite em banhos de água cristalina e toalha estendida na fina areia branca da melhor praia dos Açores. A Maré vai a meio e já não conseguimos imaginar mais um ano sem tudo isto.

///////

Fotografia: Foto Pepe – Derrick Sousa

+ There are no comments

Add yours