O álbum branco que não se chama “White Album”


Despoletou o desentendimento entre a banda, inspirou Charles Manson, e nem teve direito a capa! O álbum branco intitulado “The Beatles” foi editado há 50 anos.

Há 50 anos, a 22 de novembro, os Beatles cumpriam a ingrata tarefa de lançar o sucessor de “Sgt. Pepper’s”. Para contrastar com a capa colorida do antecessor, o álbum “The Beatles” era todo branco, sem imagens ou texto, além de “The Beatles” escrito a relevo. Daí ter recebido a alcunha de “The White Album”, nome pelo qual ainda hoje é conhecido e reconhecido.

São trinta temas que bem podiam espelhar diferentes fases da carreira da banda! Há de tudo… literalmente. Desde uma das mais bonitas baladas de Lennon, “Julia” (e “Dear Prudence” não lhe fica muito atrás), ao ‘BeachBoyismo’ de McCartney com “Back in the U.S.S.R.”, e do ‘non-sense’ barroco de Harrison com “Piggies”, ao carnavalesco “Don’t Pass me By” de Ringo Star, a sua primeira (de duas) contribuição para o catálogo dos Beatles.

À semelhança do seu antecessor, o “White Album” não teve nenhum #1 single! Mas mesmo assim resistiu à força do tempo, muito por culpa do nome de quem o assina – Beatles -, mas, verdade seja dita, no meio de todo aquele experimentalismo e psicadelismo, existem peças de museu, como a grande composição de Harrison, “While My Guitar Gently Weeps”. Já o referi aqui, e volto a dizer: Harrison foi muito subvalorizado!

“Blackbird” e a já referida “Julia” são também outros dois grandes momentos do disco. Temas para se tocar em guitarra acústica de lareira acesa.

O enérgico proto-metal de “Helter Skelter”, interpretado pelos U2 e adotado por Manson para a sua teoria apocalíptica, acaba por ser uma peça ímpar no catálogo dos 4 magníficos, devido ao seu tom mais heavy!

Junção de várias ideias diferentes, “Happiness is a Warm Gun”, foi posteriormente referida como uma das preferidas de Lennon. E é de facto um dos temas mais desafiantes não só deste álbum, mas de toda a discografia da banda, com diferentes assinaturas de tempo e mudanças de estilo.

Não querendo comparar o incomparável, sempre que ouço “Yer Blues” quase consigo ouvir ali uns ‘early’ Led Zeppelin.

Muitos temas do disco evoluíram de ‘jams’, outros foram gravados pelo seu autor original com a colaboração de músicos de sessão, sem a presença dos restantes Beatles (“Mother Nature’s Son”), daí que seja um disco vasto e heterogéneo.

O disco possui ainda o pesado legado de ter sido nas suas sessões de gravação que se começou a desenhar o fim da banda: a presença constante de Yoko Ono no estúdio, as discordâncias artísticas, a falta de reconhecimento para com Harrison e Ringo. Foi o início do fim, que acabou por chegar dois anos depois.

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Edição especial com remixes e raridades

Uma edição especial comemorativa dos 50 anos (disponível no Spotify) foi lançada com remixes, versões alternativas dos trabalhos em andamento e ainda material que acabou por ficar de fora do disco. Por exemplo, “Mean Mr. Mustard” e “Polythene Pam”, que viram a luz do dia no ano seguinte ao integrarem o meddley de “Abbey Road”. Mas de todos os extra, destaco o “Child of Nature”. Este tema viria a ser trabalhado e ser lançado por Lennon como sendo “Jealous Guy”.

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Foto: Rudi Riet

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