O “corte final” para Roger Waters


Tenho a perfeita noção de que há uma legião de fãs hardcore dos Pink Floyd que vão querer amaldiçoar-me por dizer isso, mas: o álbum “The Final Cut” tem muito pouco de Pink Floyd.

Contextualizando: “The Final Cut” sucede a “The Wall”, que foi obra quase exclusiva de Roger Waters. Ambos os álbuns têm um teor muito autobiográfico por parte de Waters, o assumido autor das letras desde 1973. Mas, enquanto “The Wall” ainda possui um cunho forte de Gilmour e mesmo Wright, “The Final Cut” é simplesmente a ascenção ditatorial de Waters nas lides da banda.

Quem ouve “The Final Cut” percebe que a sonoridade é diferente do resto do catálogo dos Pink Floyd. Aliás, se querem ouvir algo semelhante mais vale ouvir  o álbum a solo de Roger Waters – “The Pros and Cons of Hitchhiking”.

Aqui e ali, ainda se sente qualquer coisa de Pink Floyd, como o solo de guitarra no tema “The Fletcher Memorial”, ou a transição da voz de Waters para o solo de saxofone em “The Gunner’s Dream”. Mas é muito pouco para caracterizar o álbum como um produto Pink Floyd, até porque Gilmour já não compunha, Wright tinha sido afastado da banda, e até Mason foi substituído num tema.

Até a raiva e angústia presentes na voz de Waters já não têm o mesmo encanto que tinham em “The Wall”. Desprovido de essência ‘floydiana’ “The Final Cut” parece um debitar enfadonho das ideias de Waters. Por mais que ouçamos o álbum de cima a baixo, ou de trás para a frente, custa a associar a um dos nomes com mais peso na história do Rock.

Ironicamente, o nome do álbum parece antever o fim do quarteto clássico dos Pink Floyd. Para o bem e para o mal, foi o corte final para Rogers Waters!

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