“Os Homens Não Se Querem Bonitos” em saldo


Uma das (muitas) coisas boas desta época, é a quantidade de artigos que encontramos nos saldos. E foi “embebido” de espírito natalício que encontrei uma “peça” vintage do Rock português: “Os Homens Não Se Querem Bonitos” (1985), dos GNR.  Era um disco que não tinha na minha coleção… e, se calhar, se não fossem os saldos, continuaria assim. Mas lá arrisquei.

Chamem-me saudosista, mas, não há nada como abrir uma caixa de CD, colocá-lo na aparelhagem e folhear o ‘booklet’, acompanhando as músicas. A escuta até se torna mais atenta. E esta atenção fez crescer um pouco a minha consideração pelo álbum. É caso para dizer “primeiro estranha-se, depois entranha-se”.

O começo até é promissor: “Santa Polónia” arranca com uma malha a lembrar King Crimson (juro que não estou a mentir!) na fase de início dos anos 80, mas depois a performance de Reininho simplesmente não encaixa. Não o desempenho propriamente dito, mas a “opção estética”. Parecem dois temas diferentes.

Por falar em Reininho, nestes álbum há grandes momentos líricos, como há momentos de “menor inspiração”. Mas a sua habilidade para a jigajoga de palavras, trocadilhos e “pegadilhos” mantem-se intacta e fiel ao que sempre nos habituou. Como prova o tema Freud&Ana: “Mão morta, mão morta vai bater àquela porta…”, acompanhado por um animado Rock Ska. Não é, claramente, dos temas mais populares dos GNR, mas é dos que mais ajudam este álbum.

Agora, se formos falar de popularidade, este é o álbum que nos traz o tema que, por sinal, é O MAIS POPULAR do catálogo dos GNR: “Dunas”.

Há outros dois temas que são presença frequente em concertos e colectâneas: “Sete Naves” e “Sentidos Pêsames”.O primeiro com a sua atmosfera “arábico-industrial” inicial é hipnotizante e depois apanha-nos  de surpresa com o portuguesismo do acordeão de Toli César Machado e o fado carregado na voz de Reininho. “Sentidos Pêsames”, é o mais parecido com a balada “da praxe” deste disco.

Ainda temos tempo de ouvir Alexandre Soares, fundador da banda a cantar em “Made in Oporto”. Não é um mau tema, mas… falta qualquer coisa. A voz de Reininho?

O instrumental Azrael cai num experimentalismo pouco habitual da banda, que não lhes fica mal, apesar de anos mais tarde Toli  afirmar que não é dos seus álbuns preferidos exatamente por este ser “demasiado experimentalista”.\

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“Dunas”, sempre “Dunas”!

Dunas” é um clássico que atravessou gerações. O mais conhecido e reconhecido da banda. Tenho sentimentos mistos, precisamente por isso. Qualquer coisa é “Dunas”, fala-se em GNR é “Dunas”, os montes de areia na praia… Dunas! Uma pessoa fica farta. Mas se nos conseguirmos afastar um pouco: é fantástico! Aquele som orgânico dos dedos nas cordas, aquele baixo gordo… Dunas tem mais do que parece, e esconde muito do que tem. É tema de Panteão. A prova? Sobreviveu mais de 30 anos. Quero ver, daqui a três anos, se alguém se lembra do Despacito!

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