“Para ouvir música as pessoas compram o raio do disco”


Em tempos, vi uma entrevista de Freddie Mercury em que ele explicava o porquê da sua atitude – e dos Queen em geral – em palco. Traduzindo, foi qualquer coisa como: “As pessoas vêm para ver um espetáculo, ‘darling’. Para ouvir música elas compram o raio do disco e ouvem em casa”.

Nem mais! Mercury era tão actual à data da entrevista, como cerca de 30 anos depois. Abundam casos semelhantes, casos em que os olhos “ouvem” mais que os ouvidos. Por vezes essa atitude alia-se a música de excelência, outras vezes nem tanto, mas a teatralidade, a luz, as video-projeções, enfim, uma série de atributos extra-música, podem não ser indispensáveis (por quanto mais tempo?), mas fazem a diferença entre ser grande e ser gigante.

Ora vejamos: além dos referidos Queen, quem não vibra com a atitude colegial de Angus Young num concerto de AC/DC? Quase podemos desligar o som e ficar só a “escutar com os olhos” aquele miúdo de 59 anos. Ou os cenários fantásticos e a prestação assombrosa de Ed Hunter com os Iron Maiden?

Num registo diferente, os concertos de Pink Floyd são verdadeiros espectáculos multimedia. A aparente apatia dos músicos em palco é completamente suplantada por uma orgia de cores, luz e vídeo.

E as digressões de Madonna ou Michael Jackson? Verdadeiros ‘shows’! Com bailarinos escolhidos a dedo pelos próprios e horas de coreografias.

Conseguem imaginar um concerto de Michael Jackson em que ele esteja sentado a cantar num estilo de MTV Unplugged? Pois, eu também não.

Cada vez mais as receitas provêm das digressões. Há que entreter, encher recintos e deixar espectáculos memoráveis para a eternidade. É isso que as pessoas esperam, que exigem. Para ouvir música apenas, compra-se o raio do disco.

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