Por vezes “o nosso maior problema é acharmos que somos pequeninos”


 

Luísa Sobral atuou pela primeira vez em São Miguel no passado sábado, no Teatro Micaelense, e antes do concerto esteve à conversa com o Meia de Rock. Uma entrevista publicada na edição de sábado do Açoriano Oriental.

 

O que é que alguém que nunca viu a Luísa Sobral ao vivo pode esperar do espetáculo? 

Eu toco um estilo próximo do Jazz. Temos um concerto super dinâmico. Acho que as pessoas normalmente se divertem. Pelo menos é isso que me dizem no fim. Podem esperar um bom ambiente em cima do palco, que espero que também contagie o público. Podem esperar um bocadinho do primeiro disco e mais do segundo. Acima de tudo é um concerto muito dinâmico, que nunca se torna aborrecido. Está construído para ser um concerto que estimule vários sentidos. Eu gosto muito da parte visual… por acaso acho que não vamos conseguir levar o cenário todo. Vamos ter que inventar aí algumas coisas.

Li numa entrevista que no primeiro concerto de promoção do álbum de estreia tocou uma música que viria a estar no segundo disco. Iremos ouvir em Ponta Delgada algum tema de um eventual terceiro álbum?

Estou a tentar fazer isso menos. O meu manager ralha comigo por eu estar sempre a querer mostrar músicas novas. Vamos tocar uma canção de natal que eu escrevi este ano. Acho que não vai estar no próximo disco – por ser uma canção de natal – mas como só a vou tocar durante este mês, e provavelmente só este ano, acho que isso a torna mais especial.

Uma das grandes surpresas de “There´s a flower in my bedroom” foi a participação de Jamie Cullum. Como é que ele aparece neste disco?

Fiz a primeira parte do Jamie no Cool Jazz, aqui em Lisboa, e ele aí ficou a conhecer-me. Quando comecei a trabalhar neste disco pensei em alguns convidados: pensei logo no Zambujo porque já tinha cantado aquela música comigo, pensei no Mário Laginha porque é o meu pianista preferido, e pensei também no Jamie, para ter alguma pessoa de fora, e porque, de certa maneira, ele faz uma coisa parecido com o que eu faço – não na sonoridade, mas na mistura de Pop com Jazz. Gosto muito da voz dele, e sempre gostei do trabalho dele. Por isso pensei, ‘porque não?’ Eu não gosto muito de duetos românticos – as canções românticas prefiro cantá-las sozinha – e esta não é uma canção assim, não tinha ‘aquela coisa da paixão’… por isso achei que seria a canção perfeita. Enviei-lhe a canção, perguntei se ele gostava, e ele disse que sim.

Acreditou logo que ele iria aceitar ou pensou que seria um sonho arrojado?

Esse é, normalmente, o problema dos portugueses: acharmo-nos ‘pequeninos’. Eu nunca pensei assim. O Jamie Cullum é um músico mais conhecido do que eu, mas eu sou tão músico como ele. Nunca pensei que cantar com ele fosse o meu maior sonho. Para mim é igual cantar com ele ou cantar com o Zambujo. São duas pessoas que eu admiro. Não é por ele ser internacionalmente conhecido que é mais especial. É especial pelo que ele é. Eu pensei: ‘eu gosto desta canção e gostava de cantá-la com o Jamie, se ele disser que não, diz que não…’ Nunca o pus num pedestal. Esse normalmente é o nosso maior problema: é nós acharmos que somos ‘pequeninos’. Só por termos nascido aqui? Não faz sentido nenhum.

A internacionalização tem sido uma aposta bem sucedida. Acha que a colaboração de Jamie Cullum no disco deu um ‘empurrão’?

Sim, está a correr bem. Mas acho que [a participação do Jamie Cullum] não deu esse ‘empurrão’, e eu fico contente com isso. Não é uma canção que tenha sido um êxito e por isso me tenha levado a ter mais concertos. Muita gente me perguntou se ter o Jamie no disco era estratégia: não foi. Aliás, eu não gostava de ficar conhecida por ter cantado com o Jamie. Eu gostava de ser reconhecida por as pessoas gostarem de mim. Não vou estar com hipocrisias do tipo: ‘Não, não, não. Se é por causa do Jamie não quero dar este concerto em Copenhaga’, por exemplo. Mas gosto mais da forma como as coisas aconteceram: as pessoas gostam do disco e dizem ‘que engraçado, cantaste com o Jamie Cullum’ e não ‘vou ouvir o disco porque ela canta uma canção com o Jamie Cullum’.

Quando atua no estrangeiro como é que o público reage às músicas cantadas em português?

Reage muito bem. Eu tenho menos canções em português do que em inglês, mas levo sempre canções em português. Faz parte da minha identidade. Sou portuguesa e tenho um orgulho enorme em ser portuguesa. As pessoas gostam de conhecer melhor quem está em cima do palco, e ser portuguesa é parte que quem eu sou. Canto muitas vezes o “Senhor Vinho”, uma canção que fala de três personagens do Fado. Há uma parte na música que é para cantar ‘la la la’, e então eu digo às pessoas para cantarem comigo para sentirem que estão a cantar em português [risos]. 

Continua a publicar, esporadicamente, vídeos caseiros no youtube, tal como fazia quando ainda não tinha iniciado uma carreira profissional. Qual é a motivação?

Publiquei um agora mesmo. Eu gosto muito de voltar às raízes. Hoje, muito pouca música é realmente orgânica e verdadeira. Muitos vídeos que vejo hoje em dia são super produzidos. E eu adoro ver quando um artista qualquer que eu gosto mostra um vídeo em que está a cantar em casa, porque é um regresso às coisas mais verdadeiras e mais cruas. Foi assim que eu comecei, e apesar de estar a dar concertos e de estar a correr bem, eu tenho mesmo prazer em cantar. Tenho prazer em estar em casa e mostrar coisas muito simples. Não tenho medo de mostrar coisas muito cruas e nuas. Gosto de mostrar que isto continua a ser um prazer e não só um trabalho.

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