Rádio Alegria: mais vale tarde do que nunca


Não ‘sintonizei’ a Rádio Alegria, dos Azeitonas, quando ‘a emissão estava no ar’. O disco passou-me completamente ao lado. Felizmente existe a internet. Vou explicar-me melhor. Em 2007 Os Azeitonas lançaram um disco conceptual muito interessante, intitulado Rádio Alegria, e que só agora chegou aos meus ouvidos. É caso para dizer ‘mais vale tarde que nunca’.

A ideia do disco é simples: estamos a ouvir rádio – um daqueles de transistor – e depois de uma busca de alguns segundos, paramos na emissão da Rádio Alegria – com direito a jingle e tudo -, começando por ouvir o noticiário, que já nos prepara para o ambiente descontraído e cómico, mas ousado e inteligente, presente em todo o disco. Ora vejam lá esta notícia: “Um homem de 27 anos foi encontrado infeliz na sua casa em Mem Martins. Aparentemente, o jovem já se encontrava macambúzio há algumas semanas sem que a vizinhança tenha dado por isso. Foi uma vizinha que, acidentalmente, o encontrou estendido no sofá, já sem felicidade”.

A nível musical notam-se muitas (e boas) referências, algumas provavelmente propositadas, como é o caso do segundo tema, que faz lembrar demasiado a introdução de “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”, dos Beatles, para ser uma coincidência.

Notam-se ainda referências a Rui Veloso – que produziu o álbum e que é o responsável pelo salto para a fama dos Azeitonas – ou Supertramp, por exemplo.

Entretanto, e entre músicas, um locutor conduz o ‘ouvinte’ ao longo da emissão da estação de rádio imaginária, passando pelo ‘fundo do baú’, ‘histórias da nossa vida’, ‘perdidos e achados’, ‘noites de insónia’, música internacional e música para crianças.

Além da evidente qualidade musical, a irreverência e originalidade das letras e os arranjos vocais, são alguns dos pontos fortes desta Rádio Alegria, um álbum que prova – se dúvidas houvesse – que Os Azeitonas são muito mais do que “Anda comigo ver os aviões”, um tema lindíssimo, mas que, como tudo o que é tocado até à exaustão, já (quase) perdeu o seu encanto.

Fraco, neste disco, só mesmo a música (mais ou menos) escondida. Uma balada a duas vozes no mesmo tom, que não funcionam, e que foge ao conceito do álbum. O melhor mesmo é desligar a Rádio Alegria assim que acabar o tema “Rubi (Terça-feira)”. Ou começar tudo de novo porque o disco é mesmo muito bom!

 

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