Riverside – Shrine of New Generation Slaves


É inegável para a grande maioria de nós que vivemos num mundo em mudança. Um mundo em constante sobressalto onde muitas vezes, como sociedade global, nos encontramos sem rumo, sem esperança onde o futuro se afigura como cinzento e sem esperança de tempos vindouros melhores. São tempos em que agimos como robôs fruto de produtos da sociedade moderna como o capitalismo, consumismo e muitos outros problemas atuais daí derivados e que estão bem presentes no nosso dia-a-dia, povoando manchetes de jornais, noticiários e outros meios de comunicação, muitos deles veículos desses mesmos estigmas. São estes os temas por detrás do quinto álbum de longa duração da banda polaca Riverside.

Entretanto, passaram-se 4 anos desde o último disco lançado pela banda, o dobro do que tem sido costume até então. Provavelmente, este fato influenciou também no resultado final alcançado uma vez que as mudanças não se ficam apenas pela temática do álbum mas  também na música apresentada neste Shrine of New Generation Slaves. A banda, esta, manteve-se inalterada no seu line-up clássico com Mariusz Duda (voz/baixo), Piotr Kozieradzki (bateria), Piotr Grudzinski (guitarra) e Michal Lapaj (teclados). No entanto, é facilmente detetável uma certa mutação, como que uma ligeira mudança do rumo até aqui trilhado pela banda de Varsóvia. Para além do óbvio caráter progressivo que marca a música dos Riverside, notam-se influências bem vincadas como o blues, jazz e o rock clássico dos anos 70. Esta metamorfose pode muito bem ter sido propositada de modo a acompanhar o tema central do disco como referido anteriormente. Mas uma coisa é certa: A qualidade musical está intacta como a banda sempre nos habitou em todos os seus lançamentos.

 O álbum começa com “New Generation Slave” que dá o mote à temática do álbum. O início calmo dá, mais tarde, lugar a uma demonstração de um rock mais pesado fazendo prever, desde logo, a diversidade encontrada no CD. A faixa seguinte, “The Depth Of Self-Delusion”, uma das mais melancólicas do disco, demonstra a capacidade de Piotr Grudzinski em produzir belas melodias de guitarra que são auxiliadas pela harmoniosa voz de Duda. A terceira música do álbum, “Celebrity Touch”, é uma clara alusão aos “15 minutos de fama” que, cegamente, muitos almejam nos dias de hoje e que deu origem ao primeiro vídeoclip saído de Shrine Of New Generation Slaves. Musicalmente, o tema revela-se como o mais pesado do álbum enveredando por um rock progressivo com influências do rock clássico setentista. Possui, igualmente, uma ponte melódica que, liricamente, tenta dar-nos um certo alento e esperança face ao que é exposto. “We Got Used to Us” mostra-se como a música mais catchy do disco e, mais uma vez, trilha por caminhos melódicos que são a imagem de marca desta banda. A quinta faixa, “Feel Like Falling” retoma a toada mais pesada começando com um ritmo bem demarcado e repetitivo de baixo e órgão e com um break que inclui alguns dos riffs mais pesados do álbum. “Deprived”, por sua vez, inclui um lindo solo de saxofone que funciona como um raio de luz numa música que é povoada por um ambiente melancólico e atmosférico que nos faz lembrar alguns dos trabalhos mais recentes de Anathema. “Escalator Shrine”, a faixa mais longa do disco, é mais um exemplo da crítica ao estilo de vida de muitas das sociedades modernas e mecanizadas. Estilisticamente, é demonstrativa da qualidade técnica que a banda possui caminhando por terras normalmente associadas ao jazz-rock e o rock progressivo de bandas como King Crimson ou Camel são precursores. Finalmente, “Coda” é, em apenas 1:39, uma verdadeira catárse dando-nos o caminho a seguir no meio do imenso turbilhão emocional de todo o álbum e que os mais atentos perceberão pela letra que é, basicamente, uma contraposição à faixa “Feel Like Falling”.

Shrine Of New Generation Slaves poderá ser um desafio para os fãs mais acérrimos da banda devido ao experimentalismo revivalista que a banda imprimiu neste trabalho. Contudo, a competência e capacidade de produzir verdadeiras canções de qualidade está incólume. Ao fim ao cabo, uma das características do rock progressivo é a vontade em trilhar caminhos que outros estilos não ousam fazer e onde os limites são difíceis de impor. Neste aspecto, os Riverside permanecem, atualmente, como verdadeiras referências do género.

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