Rui Veloso e Amigos


Rui Veloso escolheu treze músicas do seu repertório, convidou os amigos, e fez uma verdadeira festa em que nada faltou: Rock ‘n’ Roll, Funk, Fado, Jazz, Morna, está lá tudo.

Não é um ‘greatest hits’. Não estão lá os temas eternos a que automaticamente associamos Rui Veloso, como “Não Há Estrelas no Céu”, “Paixão”, “Chico Fininho”, ou “Porto Sentido”. E ainda bem.

Fica a sensação de ter sido uma escolha sem demasiadas preocupações comerciais, de quem não tem nada a provar, e de quem tem a maturidade e confiança para seguir o seu caminho sem olhar para trás a ver quem o está a seguir. Estão lá alguns êxitos, é verdade, como “Nunca Me Esqueci de Ti” (com Ricardo Ribeiro), “Primeiro Beijo” (com Tito Paris), ou “Fado do Ladrão Enamorado”, mas nenhum daqueles temas que foram – e continuam a ser – tocado até à exaustão, um pouco por todo o lado.

A harmonia entre os convidados e a música que interpretam é total. É a velha dúvida do ‘ovo e da galinha’: Os arranjos foram feitos a pensar em determinado artista? Ou os artistas foram convidados consoante o rumo que a música estava a tomar? Talvez um pouco das duas. O certo é que funcionou em pleno. Às vezes até parece que é o Rui o convidado.

Há sempre um grande cuidado na produção dos discos do Rui Veloso – diz quem trabalha com ele que nada é deixado ao acaso e que ele é muito persistente nas suas convicções em estúdio – e isso vê-se também neste disco. A qualidade da gravação é excelente, ouvimos todos os instrumentos na medida certa, e com aquele ‘calor vintage’ de guitarras e teclados que já podiam ter barbas brancas e ser avôs.

Há quatro temas do disco que se ‘agarraram’ aos meus ouvidos: Mr. Dow Jones, com a irreverência funk dos Expensive Soul, “Os Velhos do Jardim”, com a sabedoria de Carlos do Carmo, “Corações Periféricos”, com o sentimento ilhéu de Zeca Medeiros, e “A Explicação das Estrelas”, com a despreocupação ‘cool’ de JP Simões.

“Bem-vinda sejas Maria”, a única música cantada apenas por Rui Veloso, ganha um significado singular neste disco, ficando para a história como a última gravação de estúdio de Bernardo Sassetti, a quem o disco é dedicado.

“Rui Veloso e amigos” conta ainda com a participação de Jorge Palma (“Em Busca de um Visual”), Camané (“Conceição”), Luís Represas (“Má Fortuna”), Maria João e Mário Laginha (“As Regras da Sensatez”), e Manuel João Vieira, Boss AC, Ana Sofia Varela, Paulo Flores, Lura, Tcheka, Zé Ricardo, Manecas Costa, e Luanda Cozetti, no tema “Fado Pessoano”, em que a mistura de sotaques celebra a expansão da língua portuguesa pelo mundo.

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