Sound Zone: Doze anos a divulgar a música de peso


Nuno Costa Fundou a Sound Zone para divulgar o metal, entretanto, com a evolução tecnológica o papel deu lugar ao digital. Doze anos depois, mantém a disponibilidade e a paixão

Muito mudou no metal açoriano na última década – nos primeiros anos deste século havia mais bandas e mais eventos dedicados ao género – mas há uma coisa que se mantém: a persistência de Nuno Costa em divulgar a música de peso que se faz nos Açores e no mundo.

Aquilo que começou por ser uma ‘fanzine’, que teve 14 edições distribuídas em papel, evoluiu para um blogue que ultrapassou as barreiras do nosso arquipélago, e que hoje alcança o assinalável registo de aproximadamente 20 mil visualizações mensais.

Mas não só de atividade jornalística se fizeram estes 12 anos. Ao longo do percurso a Sound Zone colocou mãos à obra e teve a ousadia de organizar oito eventos, que envolveram cerca de 30 artistas nacionais e internacionais.

O interesse de Nuno Costa por esta área não surge por acaso, já que ele próprio é músico. Baterista de Stampkase, Sanctus Nosferatu, e Human Hate, bandas com que gravou álbuns e ganhou prémios, o músico, também amante da escrita, sentiu o impulso para fazer algo que contribuísse para o bem comum. O resultado foi a Sound Zone, que está hoje disponível em www.soundzonemagazine.com. O Meia de Rock esteve à conversa com o fundador e responsável pelo projeto.

O que é que te levou a criar a Sound Zone?

Sobretudo, o gosto pela escrita e pela música. Assim que acabei os estudos e fiquei com mais tempo, juntei estas duas paixões e a Sound Zone foi-se tornando algo cada vez mais presente e intenso na minha vida. No entanto, foi mais um impulso do que outra coisa. Sentia-me tão atraído por esta área que não pensava se tinha mais ou menos experiência. O importante era fazer algo que me realizasse e com isso ajudar os músicos. A Sound Zone surge numa altura em que se estava na transição para a era digital, daí ainda termos editado catorze números em papel, o que nos dá sempre um enorme gozo recordar.

Doze anos a divulgar a música de peso. Quando começaste a Sound Zone imaginavas que o projeto ia durar assim tanto tempo?

Muito sinceramente, essa questão nem se colocava. Nestas áreas temos que estar blindados contra a crítica e as modas, até porque o nosso povo não lida bem com a felicidade alheia e não podia estar à espera que a motivação fosse externa. Basicamente concentrei-me no que mais gostava. Já alguém dizia: “Ser realista é uma estrada para a mediocridade”. Ora, numa sociedade castrada de sonhos, valores e laços emocionais eu não teria avançado se não pensasse no abstrato.

O que é que aconteceu ao metal nos Açores? Depois de vários anos em que predominavam as bandas e os concertos de música pesada, o metal está desaparecido ou está apenas escondido?

Por estranho que pareça, o metal foi realmente a maior “força” musical açoriana nos últimos vinte anos. Qualquer jovem queria tocar este estilo e não propriamente coisas populares. Daí que me revolte que as pessoas e os responsáveis pela cultura estejam tão insensíveis a esta tradição. Eu gostava muito de pensar que as mentalidades evoluíram, mas estou certo de que a única coisa que afasta as bandas de metal dos palcos açorianos é ainda o velho preconceito da música “barulhenta” e, sobretudo, as pessoas não tentarem sequer compreender o que nele se passa. Eu faço sempre esta comparação: o metal, de facto, é um estilo musical com essa intensidade que muitos gostam de chamar de “violência”, mas sobretudo é uma forma de entretenimento e ninguém censura ou bane a violência que é exibida em filmes, séries, reality shows ou simplesmente nos telejornais – até mesmo no futebol. Eu pergunto se é mais chocante ver a corrupção que existe atualmente na política ou se uma banda de metal. No fundo, o metal é incómodo porque movimenta-se fora do círculo das pressões económicas. O metal, barulhento ou não, tem uma máxima insofismável: a da liberdade. Isto chega?

O que é que mudou, o público, os músicos, os promotores de espetáculos?

Primeiro mudou a política. São eles que governam e instituem a nossa forma de vida, quando pensamos que somos todos livres. Como vivemos sob um sistema monetário, é o dinheiro que dita a lei. Portanto, a crise económica destruiu tudo o que não se subjuga a esse esquema. Aliás, hoje em dia não se vive, sobrevive-se. Com esta preocupação principal as pessoas nem pensam! É isto que interessa a quem governa – um povo calado e sem poder de escolha.

E a nível internacional, quais foram as mudanças mais significativas no metal, nos últimos doze anos?

A nível geral o metal nunca teve tanta diversidade e qualidade. No entanto, o contexto de crise económica e de mudança para a era digital trouxe grandes incógnitas para esta indústria. O estilo musical em si está de perfeita saúde. No entanto, as bandas estão ainda a procurar forma de se adaptar e sobreviver.

Foste baterista de várias bandas. Já ‘arrumaste as baquetes’ ou continuas a tocar? O que é que ainda pretendes fazer enquanto músico?

Ainda sou e não pretendo deixá-lo de ser. Mantenho-me mais ativo com a banda terceirense Human Hate (com a qual ganhámos o último Angra Rock), mas ainda tenho os Sanctus Nosferatu e Stampkase. O meu objetivo primordial continua a ser o de melhorar dia após dia, enquanto intérprete e compositor, e com isso continuar a gravar e a lançar discos.

 

Fotografia © André Frias

+ There are no comments

Add yours