Temple Of The Dog – A Quintessência do Rock


Para mim tudo começou com alguém que tinha um irmão mais velho lá no Porto que namorava com uma inglesa que pelos vistos era alta coleccionadora de música – numa altura em que coleccionar música ainda era muito cool. Assim, nestes meros graus de separação uma cassette com a cópia da cópia do primeiro e único álbum dos Temple Of The Dog veio parar-me às mãos. A horrível matryoshka de gravações custou-me quase 200 paus mas valeu cada escudo que paguei por ela.

Em 1990 os Mother Love Bone andavam a espalhar charme a partir da Seattle natal e desde aí planeavam governar o mundo com o lançamento de Apple. Quis o destino trocar-lhes as voltas, quando Andrew Wood, o vocalista prima donna com a desmedida sensibilidade poética de um Jim Morrison e a pinta de uns Axl Rose meets Janis Joplin, cedeu aos demónios pessoais deixando-se levar na ponta de uma maldita agulha.

Quis também o destino que esta partida não fosse em vão, inspirando o seu grande amigo Chris Cornell, a toda-poderosa voz dos Soundgarden, a escrever um punhado de canções que serviriam igualmente como catarse e resolução de luto. No London Bridge Studio, pegou nos talentos de Matt Cameron – baterista dos Soundgarden – Stone Gossard e Jeff Ament – à época guitarrista e baixista nos Mother Love Bone e posteriormente membros fundadores dos Pearl Jam – Mike McCready – solista nos Pearl Jam, um Stevie Ray Vaughan da era moderna e provavelmente o guitarrista mais subvalorizado da sua geração – e por fim Eddie Vedder – acabado de chegar da California para se tornar o eterno vocalista dos Pearl Jam – e em conjunto gravaram durante duas semanas uma das homenagens mais sentidas e épicas alguma vez transpostas para fita. Os Zeppelin, o Hendrix, o Rock FM, um sentimento inabalável de amizade e o peso, O FILHA DA MÃE DO PESO, estavam todos lá quando o homónimo Temple of The Dog nos chegou em 1991, fazendo justiça a tudo o que Andrew Wood significava.

Passados 25 anos e uma dura e vergonhosa batalha legal a banda conseguiu recuperar as master tapes, tendo previsto para Setembro uma reedição luxuosa do álbum, seguida de uma curta tour – a primeira! – pelos Estados Unidos. Afinal não nos podemos esquecer que o Rock’n’Roll foi inventado para que discos destes fizessem História!

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