Teresa Gentil de regresso com “A dança das palavras”


Teresa Gentil pode não ser o nome mais sonante do panorama musical nacional, nem mesmo a nível regional aquando da sua residência nos Açores, mas o facto é que é detentora de uma obra consistente e sui generis. Desta vez, coube-lhe a tarefa de musicar os poemas vencedores do concurso “Façam lá um poema” (1º e 2º ciclo) do Plano Nacional de Leitura. E é assim que nasce “A Dança das Palavras”.

Neste álbum, Teresa Gentil assume guitarras, teclados, percussões e outras tralhas, tal como ela própria afirma. À sua qualidade como compositora, que aliás é a sua formação base (é licenciada em composição pelo ESMAE), alia a sua polivalência como executante.

Numa nota transversal a todo o disco, a primeira coisa que salta à vista, ou melhor, salta ao ouvido, é a cumplicidade música-letra. Cada tema representa na perfeição os poemas. Parece ter sido obra da mesma pessoa, até porque, pela qualidade que apresentam, alguns poemas nem parecem ter sido feitos por crianças de 10 anos, mas é simplesmente a capacidade de Teresa em vestir o papel dos poetas de palmo e meio, e sentir musicalmente aquilo que eles sentiram nas palavras.

E é precisamente por isso que este é um disco muito heterogéneo. Teresa Gentil serve-se de uma palete de estilos musicais  para dar vida aos poemas. Temos forte influência latina (bossa nova), influência notória de cantautores da nossa praça, até resquícios grunge! (Sim, ouçam o início do tema “Eu quero ser…” e digam se não vos vem à memória Kurt Cobain!), mas no geral sente-se aquela toada infanto-juvenil, por motivos óbvios.

Mas, acima de tudo, Teresa Gentil é uma ‘entertainer’ musical. Não se limitou a musicar e a interpretar os poemas. Ela canta, fala, representa. Encarna cada personagem como se de um filme se tratasse. Se calhar é a isto que se refere quando menciona “outras tralhas”. Tralhas, mas não trafulhices, é aquele toque especial!

Gostaria de realçar aqui os poemas “Eu quero ser…” e “Há palavras”, de Tatiana Ferreira e Alice Menezes. Poemas tão maduros e adultos, que até se torna difícil acreditar que foram escritos por crianças. No geral, os poemas são muitos bons (afinal de contas, são os vencedores não é?), mas Tatiana e Alice têm um talento acima do normal. Quem sabe se não estaremos na presença de novos Ary dos Santos ou Carlos Tê, em versão feminina? O futuro o dirá, para já estão na idade do “querer ser”.

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Compor para as palavras dos outros

Curiosamente, não é a primeira vez que Teresa Gentil lança um trabalho em que compõe música para as palavras de outros. Já o tinha feito no seu primeiro álbum, “Natália Descalça”, que remonta a 2006. Este albúm é precisamente uma coletânea de poemas da poetisa açoriana Natália Correia, musicados por Teresa Gentil. Pelo meio lançou também “Gent’ ilesa”, álbum já mencionado no Meia de Rock.

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Download Gratuito do álbum aqui.

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