Tiago Franco: guitarrista açoriano acompanha artistas nacionais


A banda de originais Karpa não teve o sucesso desejado, mas o desempenho de excelência em bandas de covers levaram o músico açoriano a ser contratado por vários artistas consagrados como Fernando Cunha – Delfins e Resistência – ou Mazgani.

A última vez que falámos, em 2014, os Karpa acabavam de lançar um álbum. O que é que aconteceu depois disso?

Depois disso Karpa acabou… Acho que estávamos todos em momentos diferentes das nossas carreiras e não houve o foco que uma banda de originais exige, mas foi bom enquanto durou. Depois disso ainda toquei com outros projetos e fiz um power trio chamado Silicon Seeds, de blues/rock/stoner que tocou no Tremor. Além disso, tenho substituído o Tiago Maia (Tiago Bettencourt, GNR e Carminho) em Jim Dungo, Dead Cats Dead Rats (tributo a The Doors) e na banda do “5 Para a Meia Noite”, na RTP. Tenho as ‘bandas de São Miguel’, BILF e Boots Reunion, em que tocamos blues. Em Dezembro de 2017 entrei na banda Rock em Stock (tributo ao rock português) com que toco todas as sextas-feiras no Popular, em Lisboa. Mais recentemente comecei a tocar com Mazgani. No início fiz alguns concertos do final da primeira parte da tour dele com o Sean Riley. Agora estamos a começar com os concertos do novo álbum, “The Gambler Song”. Também estou a tocar com o Romeu Bairos no seu projeto de originais, que toda a gente deveria ouvir.

Como é que surgiu esta oportunidade de começar a acompanhar artistas como o Fernando Cunha – dos Delfins – Mazgani, e até os míticos Resistência?

João Campos, vocalista dos Jim Dungo, ligou-me um dia, dizendo que o Fernando Cunha estava a lançar o primeiro álbum a solo e que precisava de músicos. Especificamente, de alguém que tocasse guitarra e baixo. Eu não sou baixista, mas como eram poucas músicas nessa posição, aceitei o desafio. No caso de Resistência, foi apenas uma vez, num evento privado. Infelizmente, como era um evento mais pequeno, não estavam todos os membros da banda. O convite para esse concerto foi-me feito pelo Fernando Cunha, depois de trabalhar no seu projeto a solo, para substituir o Pedro Jóia. No caso de Mazgani, foi o Nuno Lucas, baixista de Jorge Palma, que sugeriu o meu nome.

Qual é o grau de proximidade com cada artista? E como é a tua colaboração, apenas nos concertos ou também na gravação e composição?

É uma relação próxima, mas mais a nível profissional do que pessoal. Com isto quero dizer que não estamos sempre juntos, até porque moramos um pouco longe uns dos outros, mas quando nos juntamos para ensaiar há uma clara relação de amizade. Com as modernices de hoje em dia, como o WhatsApp, vamos mantendo o contacto, quer seja para falar de coisas banais, quer seja para falar de trabalho. Infelizmente, tanto no caso do Fernando Cunha, como em Mazgani, entrei nos projetos logo a seguir à gravação dos álbuns. No entanto, confesso que espero um dia poder participar num disco deles. De resto, há um trabalho de arranjos para tocar as músicas ao vivo e aí participo ativamente. Quando levo as músicas para a estrada tento tocar da minha forma e com a minha linguagem. Se assim não for, prefiro não estar nos projetos e não “tocar por tocar”.

Como é que geres o tempo para ensaiar com tanta gente? E como é que se gere uma agenda de concertos quando há conflito de datas?

Por vezes é complicado ensaiar e encontrar um dia e uma hora a que todos possam, nos diferentes projetos. E depois há semanas em que ensaio à noite, de segunda a quinta e depois toco na sexta e no sábado. Para além de dar aulas durante o dia. No entanto, quando os projetos já estão rodados, não se ensaia tanto. Quando há conflitos de datas, tenho sempre um ou dois substitutos que chamo para fazerem o meu trabalho numa das bandas. No meu caso, dou sempre prioridade aos projetos originais.

A próxima pergunta tem “rasteira”, mas como é pouco provável que os músicos para quem trabalhas leiam esta entrevista, podes ser sincero. Com quem te dá mais gozo trabalhar?

Gosto muito de tocar ao vivo com Mazgani. É desafiante, exigente, verdadeiro e identifico-me com as ideias que trocamos. E apesar de ter de respeitar a estética, existe sempre espaço para improviso e para interpretação, sempre em prol da canção.

Presumo que tenhas ouvido muito “Resistência” na tua juventude. Algum dia imaginavas que virias a tocar com eles?

Eu tenho a memória bem presente de ser criança e estar na cozinha com a minha mãe a ver Ritual Tejo na televisão, a música “Nascer Outra Vez”, e a cantarolar “um, dois, três, vou nascer outra vez…”. Passados quase 25 anos eu estava ao lado do Paulo Costa, vocalista dos Ritual Tejo, a tocar guitarra nessa música enquanto ele cantava. Durante a música pensei nesse momento, mas tive de me concentrar rapidamente, porque a música ainda tem alguns acordes e não é tão óbvia como parece…

Continuas a compor originais?

Se eu disser que tenho mais de 2000 ideias gravadas, desde pequenos riffs de guitarra, esboços de refrões, melodias, progressões de acordes, ideias no piano, canções completas, etc… Parece um exagero, mas é verdade. Gostaria de lançar um disco a solo. Se eu fosse cantor já o tinha feito. Às vezes gravo músicas e acho que até ficam razoáveis, mas passado uma semana já não consigo ouvir aquilo. O mesmo acontece quando me oiço a tocar. Penso que até toquei as ideias que tinha na minha cabeça, mas de repente oiço uma gravação ou um vídeo que um colega me envia e odeio certos pormenores. Tenho trocado ideias e feito temas com o Romeu Bairos, para o seu próximo disco e tenho um novo projeto com o produtor de Karpa, que me convidou para fazer algo que ainda não é muito definido musicalmente. Pretendo então gravar com todos os projetos onde estou. Mais tarde pretendo voltar a São Miguel e fazer a minha escola de música.


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Foto: © Contratempo

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