Tradição e modernidade marcam arranque do Tremor


Ao longo de cinco edições, o Tremor cresceu. Muito. O festival que se concentrava em apenas um dia, passou pelo festival que tinha um dia forte, com algumas atividades ao longo da semana, e agora é o festival que se estende por toda a semana.

O festival que se multiplicava por inúmeros espaços improváveis e pequenos – em alguns casos espaços mesmo minúsculos – passa cada vez mais por grandes salas de espetáculo e espaços mais amplos. Londrina, Out of the Blue Hostel e Igreja do Colégio são aquilo que sobra da ideia original de levar instrumentos, amplificadores, músicos e público a locais onde não seria de esperar encontrá-los.

Este conceito estará agora reservado essencialmente para o “Tremor na Estufa”, que é uma verdadeira caixa de surpresas: o público concentra-se num ponto de encontro e é levado de autocarro para um destino desconhecido, sem saber que artista o espera. Este ano o “Tremor na Estufa” acontece na quarta-feira às 18h00, na quinta-feira às 20h00, e na sexta-feira às 16h00. O ponto de encontro é sempre o parque de estacionamento da Madruga.

Outro clássico do festival é o chamada “Tremor Todo-o-Terreno”, que consiste num passeio pedestre na natureza, acompanhado por música ao vivo. Aqui o artista não é surpresa. Este ano a tarefa está a cargo dos Tír na Gnod, a versão duo dos Gnod com Paddy Shine e Marlene Ribeiro.  O local é surpresa e a inscrição é obrigatória. Quarta e quinta-feira às 15h00.

A grande novidade deste ano são os concertos agendados durante a semana. Sem mistérios e em grandes salas para que todos possam estar presentes.

A festa começou ontem, no Teatro Micaelense, com a estreia de “Levantados do Chão”, um filme do conceituado fotógrafo e videasta Daniel Blaufuks que se centra numa atuação da Banda Lira das Sete Cidades num dos cenários mais misteriosos da ilha de São Miguel – o abandonado Hotel Monte Palace. Depois, os músicos “saltaram” para o palco do teatro, para um concerto da Banda Lira das Sete Cidades, numa atuação de encher a alma, com um repertório rico, a transportar-nos para cenários típicos de filmes de Hollywood e a provar que as bandas da lira continuam bem vivas.

A fusão entre a tradição e a modernidade não esteve apenas na parceria entre Blaufuks e a Lira das Sete Cidades, porque, logo de seguida houve nova experiência a desafiar a história: a viola da terra de Rafael Carvalho juntou-se à parafernália de máquinas de sons eletrónicos de FLIP. O resultado foi algo de outro mundo. Os acordes de Rafael Carvalho rapidamente viraram samples na mesa de mistura de FLIP, em músicas construídas por densas camadas, num resultado final simplesmente delicioso. Com as possibilidades infinitas daquela pequena mesa, Rafael Carvalho teve mais liberdade que nunca.

A dois passos do Teatro Micaelense, no Auditório Luís Camões, abriu-se a porta da máquina do tempo para uma viagem aos anos 90. Os Três Tristes Tigres regressaram aos palcos, 14 anos depois. Não conseguimos estar presentes, é certo, mas facilmente conseguimos adivinhar o coro em “O Mundo a Meus Pés”, o tema mais emblemático da banda de Ana Deus.

Hoje a festa continua, com destaque para o concerto de Altin Gun, no Arco 8. A banda que recorre ao funk, à psicadelia e ao rock para celebrar o encontro do oriente com o ocidente, tendo como ponto de partida a música tradicional turca.

A quinta-feira reserva dois concertos imperdíveis. Sheer Mag, com um som absolutamente viciante, baseado em guitarras cruas que convocam o rock dos anos 70, em que sobressai a voz combativa e revoltada de Tina Halladay. Em 2015, a revista Rolling Stone considerou os Sheer Mag como  uma das 10 novas bandas a que toda a gente devia prestar atenção. Até agora, por opção própria têm-se mantido longe dos holofotes e têm recusado algumas das maiores editoras independentes. É sempre difícil acertar nestas previsões, mas os Sheer Mag parecem-me daquelas bandas que um dia poderemos dizer: “Eles estiveram nos Açores antes de serem famosos”. A não perder, no Ateneu Comercial. Depois, no Arco 8, há um daqueles concertos que pode marcar esta edição do Tremor para quem gosta de uma boa festa. O ritmo frenético do afrobeat de The Mauskovic Dance Band não vai deixar ninguém quieto.

Na sexta-feira, véspera do grande epicentro do Tremor, o festival dá o salto para a Ribeira Grande. O Teatro Ribeiragrandense vai servir “uma caldeirada musical com Rabo de Peixe e tempero brasileiro”. Pelo menos é assim que o descreve O Gringo Sou Eu, que vai subir a palco com os alunos da Escola de Música de Rabo de Peixe,  cuja participação é já uma marca do Tremor.

No Largo Gaspar Frutuoso há concerto de We Sea, outras das participações açorianas nesta edição do festival, com promessa de estreia de três novas canções.

Pelo Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, vão passar Julius Gabriel, José Valente, Paisiel, e Aisha Devi, e depois a festa volta ao Teatro Ribeira grandense com Snapped Ankles, Voyagers e Bleid.

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© Carlos Brum Melo

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Foto: Paulo Prata

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