Tremor a deslizar sobre rodas


No lugar onde rolam rodas e rolamentos montou-se o estaminé. O Rock de partir pedra dos Killimanjaro ouviu-se de dentro do half-pipe, num BlackSand Box com casa cheia depois da viagem bónus da carreira da estufa. Partir a loiça toda é pouco para caracterizar o que fizeram os Killimanjaro, com linhas de baixo caóticas, guitarradas enérgicas e uma marcada força de baquete na bateria. No meio da multidão só faltou espaço para os skates, bicicletas e afins.

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A menina da casa abria a noite. Sara Cruz foi a primeira a entrar em palco na noite de magia que se avizinhava no bar-galeria mais antigo dos Açores. Já muito batida nestas andanças, depois de com a tremor tour ter passado por exemplo por Lisboa, Porto, Londres e Faial, nem parece que Sara ainda anda na casa dos 20. Uma guitarra e a sua voz de açúcar é suficiente para prender um Arco 8 cheio, é suficiente para soltar um arrepio – aqui ainda estamos inebriados por aquela magnifica “Out of Grace”. Sara nunca desilude, temos a sensação que podia até actuar todos os dias que ninguém se importava.

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De outro lado da galáxia chegaram os Equations com o seu psicadelismo todo à flor da pele. A comparação é arriscada, mas foi impossível não olhar para o palco e ver um pouco dos Tame Impala – os verdadeiros Tame Impala de “Innerspeaker” ou “Lonerism”   – não só na música, mas até – passe a inutilidade do facto – nas suas longas cabeleiras. De cordas em riste e com a bateria a marcar o ritmo, propulsionados por sintetizadores e uma voz de outro mundo, os Equations trataram de levar o Arco 8 – e quem tivesse a sorte de lá estar – para uma viagem em direcção ao cosmos.

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O Tremor na Ferraria foi qualquer coisa de transcendente – é um facto -, mas foi sem ferro nem banhos de águas quentes que os Happy Meals partiram tudo. A galeria do Arco 8, a rebentar pelas costuras, tornou-se no local perfeito para a electrónica viciante do duo escocês, com o povo ali em cima dos artistas, não só a sentir a sua música, mas a sentir a sua presença. A verdade é que Suzanne Rodden também não fez por menos, pelos menos quando fez questão dançar, saltar e até atirar-se para o chão do nosso lado da plateia. Aquela linha de baixo ainda ecoa, aquela doce voz de intensa profundidade ainda atinge, aquela batida ainda faz mossa, aquele passo de dança ainda insiste em fugir. No final um “we’ll be back” com a certeza de missão cumprida.

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Fotos: (c) Tremor / Carlos Brum Melo (#1 [destaque]/ #3/ #4/ #5) / Nuno Gervásio (#2)

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