Velhos são os trapos


Aos 71 anos, Paul McCartney dá uma prova de frescura e jovialidade incrível. Seis anos depois do último álbum de originais, o (para sempre) ‘beatle’ sai dos míticos estúdios de Abbey Road com um novo trabalho. “New” é o que o próprio nome indica: o disco de um homem que não se esconde atrás dos êxitos do passado e não tem medo de arriscar novos caminhos.

Claro que o seu ADN não mudou. A voz, as melodias, a sonoridade típica dos instrumentos dos anos sessenta não desaparecem, mas a estes juntam-se, em alguns temas, novas técnicas e novos instrumentos, como os sintetizadores e batidas electrónicas, regra geral, bem doseados e integrados.

A excepção é mesmo “Appreciate”, um tema demasiado plastificado, com efeitos na voz que esperaríamos ouvir em Lady Gaga ou Justin Timberlake, por exemplo, mas não na magnífica voz de Sir Paul. Felizmente, é caso e único, e não é suficiente para apagar a grandiosidade dos restantes 13 temas.

Apesar de todas as pessoas com quem Paul McCartney trabalhou e todos os projectos por que passou ao longo da sua carreira, é inevitável a sua associação aos Beatles. Em recente entrevista à revista “Rolling Stone” o músico faz uma revelação curiosa acerca da influência que John Lennon ainda tem na composição de novos temas: “Se chego a um ponto em que digo ‘não tenho a certeza o que fazer aqui’, atiro a dúvida para o outro lado da sala onde está o John, e ele diz-me ‘olha, podes ir por aqui’, e eu respondo ‘pois, tens razão, e se fizer também isto?’, ‘sim está muito melhor’. Temos esta conversa. Não quero perder isto”.

Depois de ouvir “New”, acabei por me lembrar de uma cena do documentário Sound City, em que, durante a gravação de uma música, mais ou menos improvisada, Dave Grohl pergunta ‘porque é que não pode ser sempre assim tão fácil’, ao que Paul McCartney responde simplesmente: ‘It is’.

Na verdade, não acredito que seja assim tão fácil fazer um bom disco. Mas às vezes até parece.

 

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