Vinte anos depois Pink Floyd lançam novo álbum


É o terceiro álbum após a saída de Roger Waters, e o primeiro após o falecimento do teclista Richard Wrigth, que tem, no entanto, uma colaboração póstuma em “The Endless River”, que foi editado a partir de horas e horas de ‘takes’ resultantes das sessões de gravação do disco anterior: “The Division Bell”, de 1994.
Se ainda não ouviu “The Endless River” – e antes que fique excitado – aviso que não pode estar à espera de um álbum dos “Pink”, como eles nos habituaram. O melhor mesmo, é pensar em “The Endless River” como um disco de música ambiente. Um excelente álbum de música ambiente, é certo, mas um medíocre álbum de rock psicadélico.
Há laivos (não sei se intencionais ou não) de vários álbuns da carreira da banda, desde os anos 70 aos anos 90. Por exemplo, o tema “It’s What We Do” tem uma sonoridade muito colada ao álbum “Wish You Were Here” (1975), com momentos a fazer lembrar “Welcome to the Machine”, mas sem a loucura de Roger Waters, que, no fundo, era a alma do tema. Apesar da promessa, o tema nunca levanta voo verdadeiramente. E quando pensamos que a genialidade dos músicos vai aparecer, o tema acaba, e segue-se mais uma faixa de música puramente ambiente.
Não desgostei da tentativa de contribuição de Nick Mason com os seus solos de bateria espalhados pelos temas  “Sum” e “Skins”, a fazer lembrar um pouco “Ummagumma” (1969).
“Allons Y (1)” e “Allons Y (2)” faz-nos recuar ao mítico “The Wall” (1979). Quase consigo imaginar a banda a tocar este tema ao vivo, e o muro a ser construído em frente ao palco. É a guitarra que o denuncia.
Curiosamente, “Surfacing” é o único tema com uma sonoridade mais enquadrada com “The Division Bell”, cujas sessões, relembro, deram origem a este novo disco. Um misto de “Poles Apart” com “Marooned”.
Creio que o momento mais forte do disco, aquele pelo qual milhões de fãs suspiravam, acaba por ser “Louder than Words”, o único tema cantado. ‘Guilmour still has it!’ Caramba, porque não um esforçozinho extra para ter mais alguns temas deste calibre? “Louder than Words” podia bem ter figurado em álbuns anteriores de Pink Floyd. Hoje em dia, seria já um verdadeiro hino. Ah, Polly Samson, grande letrista!
Respeito o objetivo de Nick Mason e David Guilmour de, acima de tudo, deixarem o ambiente dos teclados de Wrigth serem a peça nuclear do disco. É uma bonita homenagem, mas acaba por prejudicar, não o álbum, mas as expectativas das pessoas. Já agora, se era para homenagear, porque não colocar as diferenças de parte, enterrar o machado de guerra e juntar Waters à equação? Acredito até que o resultado seria bem mais interessante,  até porque – sejamos francos – se estes foram os temas, ou melhor, as ideias preteridas em “The Division Bell”, alguma coisa devia querer dizer.
Os Pink Floyd são, incontestavelmente, um dos nomes com mais legado e peso na história do Rock, com lugar cativo no Panteão e com uma legião de fãs de que poucas bandas se podem orgulhar. Por este legado, esperava um pouco mais de “The Endless River”. Vistas bem as coisas, estamos a falar de um dos, senão o mais aguardado álbum da história.

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